Boric recua e ordena remilitarização de áreas mapuche no Chile

Por: Sylvia Colombo

Em um recuo, o presidente do Chile, Gabriel Boric, determinou nesta terça (17) a remilitarização da região sul do país, onde ocorrem há décadas conflitos entre proprietários de terras e alguns grupos mapuche. A medida terá duração de 30 dias, com uma possível prorrogação mediante aprovação do Congresso.

Os indígenas reivindicam a soberania da área de Araucânia, respeitando as demarcações do território antes da colonização espanhola, o que compreende zonas chilenas e também da vizinha Argentina.

Na campanha, o esquerdista fez do reconhecimento da cultura e da soberania mapuche uma bandeira. À época, dizia que estados de exceção não se aplicavam ao sul do país porque se trata de um problema histórico -uma dívida do Chile com o seu passado- que poderia ser tratado por meio do diálogo.

Já a imposição de um estado de exceção no norte do Chile era visto de maneira diferente, já que, para Boric, o fluxo intenso de imigrantes, sobretudo de venezuelanos e haitianos, deveria ser tratado de forma excepcional, ou seja, com a militarização da área, devido aos conflitos entre moradores e refugiados.

Mas um episódio ocorrido dias após a posse do presidente, realizada em 11 de março, começou a mudar a cabeça do governo. Numa viagem a Araucânia, Izkia Siches, ministra do Interior, segundo cargo mais importante na hierarquia do país, foi obrigada sob tiros disparados para o alto a seguir viagem por um desvio.

Ela conta ter testemunhado ataques covardes e bloqueios nas estradas que "cortam as cadeias de abastecimento e aumentam o custo de vida nas zonas mais distantes do país".

Na noite de segunda-feira (16), a ministra anunciou, ao lado de Maya Fernández, chefe da Defesa, que o governo voltaria a determinar estado de exceção no sul, ainda que com mudanças em relação às medidas anteriormente impostas pelo antecessor de Boric, Sebastián Piñera. Seria o que chamou de "estado de exceção intermediário" e de "proteção", mais concentrado em delitos cometidos em ruas e estradas. De todo modo, seria executado da mesma maneira, com o Exército assumindo o controle da região.

"Estamos diante de um problema muito complexo e que não será solucionado da noite para o dia. Também sabemos que devemos atuar de forma coordenada como sociedade", afirmou ela. "Nosso governo está comprometido com uma agenda de reconhecimento dos nossos povos indígenas."

Siches também indicou que os diálogos com as lideranças do sul continuarão, com a criação do Ministério dos Povos Indígenas e de um cargo dedicado a casos de roubos e contrabando de madeira e combustíveis, entre outros produtos.

O anúncio dividiu a base de apoio de Boric, o Apruebo Dignidad. Uma das forças mais importantes da aliança, o Partido Comunista, posicionou-se de modo contrário ao estado de exceção, enquanto os demais partidos que compõem a coalizão aprovaram a decisão.

A oposição, por sua vez, aproveitou o momento para defender as ações de Piñera. "Podem dar o nome que quiserem, de 'estado de exceção intermediário', mas estão admitindo a falência em resolver o problema por meio do diálogo", disse o senador Javier Macaya, da União Democrática Independente.