Presidentes de direita dominam história da Colômbia, onde esquerda não teve vez

Por: Sylvia Colombo 

Se Gustavo Petro for eleito neste domingo (19), será a primeira vez que a Colômbia terá um presidente de esquerda. Alguns fatores explicam por que um nome desse espectro político nunca liderou o país.

Ainda no século 19, embates históricos entre liberais e conservadores, marcados por guerras e momentos de pactos, davam o tom dos grupos que dominavam a política colombiana. Uma das raras ocasiões em que eles não estiveram no poder foi no regime de Gustavo Rojas Pinilla (1953-1957), que assumiu com um golpe militar.

Pinilla, porém, teve apoio de parte dos liberais para derrubar o conservador Laureano Gómez.
Após a redemocratização, em 1958, liberais e conservadores fizeram um pacto de alternância que durou 16 anos. Durante esse período, nos anos 1960, surgiram as guerrilhas, iniciando um processo de estigmatização da esquerda. A partir daí, figuras ligadas a esse campo político ficaram identificadas com a luta armada e a violência, o que oferecia pouco espaço para a existência de uma esquerda democrática.

Nos anos 1970, o Estado colombiano passou a enfrentar, além das guerrilhas, os cartéis do narcotráfico, e as propostas para acabar com os conflitos passaram a ter destaque nas campanhas presidenciais.

Na mesma década, surgiu a guerrilha M-19, que se diferenciava das demais. Enquanto as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o ELN (Exército de Libertação Nacional) representavam um pensamento revolucionário de esquerda que queria tomar o poder pela força, o M-19 era uma agrupação armada com forte ingrediente nacionalista e que pregava uma democracia mais inclusiva.

Um dos principais atos do M-19 foi a tomada do Palácio da Justiça, em 1985, na qual quase cem pessoas foram mortas, entre os quais 33 terroristas e vários juízes. Na ocasião, Petro, que integrava a guerrilha, estava preso. Quando saiu, foi um dos negociadores da paz, durante a gestão do liberal Virgilio Barco.

Também nos anos 1980, no governo do conservador Belisario Betancur, um acordo com as Farc criou o partido de esquerda União Patriótica (UP). O esforço pela pacificação do país, porém, acabou em tragédia. Mais de 4.000 membros da UP foram assassinados, entre os quais dois candidatos presidenciais.

Em 1989, o liberal Luis Carlos Galán, que tinha ideias progressistas e estava em campanha eleitoral, também foi morto. Ao ser eleito, o substituto dele, César Gaviria, convocou a assembleia que redigiu a Constituição hoje em vigor na Colômbia. A Carta promulgada fortaleceu a independência dos Poderes.

Gaviria foi sucedido por outro liberal, Ernesto Samper, que imprimiu caráter progressista à sua gestão, adotando um modelo social-democrata, mas foi acusado de receber financiamento do Cartel de Cali.

Os conservadores voltam ao poder em 1998 com Andrés Pastrana, que assinou um pacto militar com os EUA, o Plano Colômbia, e fracassou na tentativa de fechar um acordo com as Farc. Ele foi sucedido por Álvaro Uribe, um liberal dissidente que criou o Centro Democrático, hoje na Presidência com Iván Duque.

Uribe enfrentou as guerrilhas e as facções criminosas, mas sob muitas controvérsias e denúncias. Ele é acusado de estar por trás de crimes que envolvem violações de direitos humanos, como o escândalo dos "falsos positivos", em que militares assassinavam civis e os vestiam de guerrilheiros, cumprindo assim metas estabelecidas pelo comando das Forças Armadas no combate às Farc e ao ELN.

Com a popularidade em alta, Uribe conseguiu aprovar a reeleição no país e foi reconduzido ao cargo em 2006. Neste ano, surgiu um novo partido de esquerda, o Pólo Democrático Alternativo, que passou a fazer intensas críticas ao uribismo. A legenda, nesta eleição, apoia a candidatura de Petro.

Uribe indicou um sucessor, seu ex-ministro de Defesa Juan Manuel Santos, outro dissidente do Partido Liberal –desta vez, para fundar o Partido Social de Unidade Nacional. Com a legenda, venceu em 2010, governou por dois mandatos, fechou um acordo de paz com as Farc e foi premiado com o Nobel da Paz.

A fatia da população contrária ao pacto, porém, elegeu o então senador Iván Duque, derrotando no segundo turno, em 2018, justamente Petro, que pode se tornar o primeiro presidente de esquerda do país.