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Aos 60, britânicas lutam por aposentadoria

Por Ana Estela de Sousa Pinto (Folhapress)

Conhecidas como as vespas britânicas, elas estão dispostas a ferroar o premiê conservador, Boris Johnson.

Organizadas na Waspi (acrônimo que faz referência a "wasp", vespa em inglês, para Women Against State Pension Inequality, ou mulheres contra a desigualdade previdenciária), elas querem reverter o que consideram uma injustiça provocada por antigos governos conservadores: a obrigação de trabalhar até mais seis anos para se aposentar, por causa de reforma de 1995.

Naquele ano, o Reino Unido elevou a idade de aposentadoria das mulheres de 60 para 65 anos, com uma transição que duraria de 2010 a 2020. Mas a coalizão liderada pelos conservadores adiantou para 2018 a elevação final para os 65 anos, o que afetou as 3,8 milhões nascidas de abril de 1950 a abril de 1960 -mulheres hoje com 59 a 60 anos.

O governo também decidiu, em 2011, que a idade mínima de homens e mulheres passará a ser 66 anos. O objetivo das elevações foi cortar em cerca de 30 bilhões de libras as despesas previdenciárias.

"Não somos contra a igualdade de gêneros, mas fomos tratadas injustamente apenas pela data em que nascemos", escreve a entidade, que enviou uma petição ao Parlamento e ameaça recorrer na Justiça.

A Waspi pleiteia uma "aposentadoria-ponte" durante o período de transição, até que elas atinjam a nova idade.

O argumento é que a mudança abrupta nas regras arruinou seus planos de aposentadoria sem que elas pudessem se planejar financeiramente com tempo hábil, o que deixou várias delas em dificuldade

O grupo também é um dos alvos prioritários da campanha do Partido Trabalhista, principal rival dos conservadores nas eleições desta quinta (12). O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, reuniu-se com membros da Waspi, e o partido declarou apoio à causa.

Na plataforma de campanha prometeu compensação total às waspies (o que, segundo economistas, pode custar até 60 bilhões de libras) e, em entrevistas, disse que o país tem uma "dívida moral" com elas.

O esforço faz parte da estratégia de atrair votos da parcela mais velha, que, segundo as pesquisas, tem maior porcentagem de eleitores dispostos a escolher candidatos do Partido Conservador (que declarou não haver dinheiro para atender ao pedido das waspies). Segundo o instituto YouGov, cerca de 55% dos eleitores na faixa dos 60 anos votam no partido de Boris, e pouco mais de 20%, nos trabalhistas.

Dados eleitorais mostram também que os mais velhos comparecem mais para votar. Em 2017, 84% dos registrados com mais de 70 anos votaram, contra 57% dos que têm 18 ou 19 anos. Entre os sexagenários, o comparecimento é de 80%.

A associação reclama que as trabalhadoras dessa faixa etária tiveram sua situação agravada porque, até os anos 1990, muitas mulheres não podiam contribuir para planos de previdência privada de suas empresas, fazendo da aposentadoria pública sua única fonte de renda.

O resultado é que muitas precisam se submeter a empregos mal pagos, já que o mercado de trabalho desvaloriza mulheres mais velhas, afirma a associação.

Além dos trabalhistas, o Partido Verde, o Liberal Democrata e até mesmo o Partido do Brexit (de forma mais vaga) prometem rever a situação das sexagenárias waspies.

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