EUA batem recorde na vacinação, mas reabertura nos estados pode prejudicar avanços

Marina Dias (Folhapress)


Apesar dos dados positivos, autoridades de saúde alertam que o perigo segue iminente e que o afrouxamento de restrições como distanciamento social e uso de máscaras pode prejudicar os avanços feitos no país até agora.

Após um início de vacinação considerado lento, com média de 900 mil aplicações por dia entre dezembro e janeiro, os EUA chegaram a 5,3 milhões de imunizantes administrados no último fim de semana, com o recorde de 2,9 milhões somente no sábado (6).

O salto pode ser creditado a uma série de fatores, que inclui mais confiança da população americana na vacina e a abertura de centros de imunização em massa, em estádios e arenas esportivas e em 18 galpões da Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema, na sigla em inglês), muitos com funcionamento 24 horas.

Na maior parte dos estados americanos, supermercados e farmácias somam-se a hospitais e centros médicos como postos de vacinação que, ao todo, aplicaram ao menos uma dose do imunizante em 58 milhões de pessoas desde 14 de dezembro -ou seja, 16% da população dos EUA.

Pesquisa divulgada na sexta-feira (5) pelo Pew Research Center mostrou que o apoio dos americanos à vacina também aumentou nos últimos meses, e agora 69% deles planejam receber -ou já receberam- o imunizante, ante 60% que, em novembro, pretendiam fazê-lo. O presidente Joe Biden prometeu que, até o fim de maio, haverá doses para todos os adultos do país que desejarem ser vacinados, dois meses antes do prazo que havia sido anunciado inicialmente.

Com o avanço da imunização e a queda no número de novos casos e mortes por Covid-19 -que permanecem em patamar alto, mas menor que o dos últimos meses- estados como Arizona, Texas, Alabama, Nova York e Califórnia decidiram relaxar restrições que estavam, de alguma maneira, em curso havia quase um ano. A medida, somada às novas variantes do vírus que se espalham pelo país, acendeu o alerta da Casa Branca e de autoridades de saúde para um possível novo e quarto surto no país.

No Arizona, por exemplo, o governador republicano Doug Ducey acabou com o limite de capacidade em bares e restaurantes, mas disse que vai manter a exigência do uso de máscara em lugares públicos. Já o governador do Texas, o republicano Greg Abbott, anunciou a volta de ocupação total nos estabelecimentos comerciais e derrubou a obrigatoriedade do uso das máscaras. No Alabama, onde o governo também é comandado pelo Partido Republicano, a proteção facial deixará de ser mandatória em abril.

Apesar de a postura sobre o uso das máscaras permanecer com alto componente político -democratas são mais abertos ao protetor facial-, governadores do partido de Biden também anunciaram flexibilizações nos últimos dias. Gavin Newsom, da Califórnia, disse que vai permitir o funcionamento de parques temáticos e a prática de esportes e eventos ao ar livre a partir do próximo mês, ainda que com capacidade reduzida e máscaras obrigatórias nos estádios. Em Nova York, Andrew Cuomo concederá sinal verde para que restaurantes com área externa tenham ocupação de até 75% de sua capacidade.

De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, os EUA têm registrado média de 60 mil novos casos por dia -ante 260 mil em janeiro-, e o número de mortes diárias é de cerca de 1.700. Há dois meses, as vítimas passavam de 4.000 em 24 horas.

Diretor do Instituto de Doenças Infecciosas, Anthony Fauci tem dito que, mesmo com a melhora dos dados, não dá para baixar a guarda e há risco de um novo surto com um platô considerado ainda bastante elevado. "Queremos voltar com cuidado e devagar", disse Fauci à CBS News neste fim de semana. "Mas não dá para ligar e desligar o interruptor, porque seria realmente arriscado ter um novo surto outra vez." A opinião do especialista, um dos principais conselheiros de Biden na Casa Branca, é seguida por autoridades do Centro de Prevenção e Controle de Doença dos EUA (CDC, na sigla em inglês).

Michael Osterholm, um dos diretores da agência, por exemplo, tem repetido que os EUA estão "no olho do furacão" e que pode haver aumento no número de casos por causa das novas variantes, como a identificada primeiro no Reino Unido e que continua a crescer em território americano. De acordo com Osterholm, 40% dos casos em todo o país estão ligados a essa nova cepa do vírus.

Nesta segunda, ao divulgar as diretrizes para as pessoas que receberam a dose final da vacina nos EUA, a diretora do CDC Rochelle Walensky disse estar ciente da ansiedade para que os americanos "voltem a fazer coisas que gostam ao lado de quem amam", mas alertou que é preciso que outros milhões sejam vacinados para que todos possam parar de seguir as precauções -a previsão é que a chamada imunidade de rebanho seja atingida nos EUA somente na metade do ano.

Para os 31 milhões de pessoas que já estão completamente imunizados no país, o CDC afirma que é possível dar um primeiro passo rumo ao novo normal, com reuniões de vacinados em pequenos grupos sem máscaras. Nos EUA, são três as vacinas aprovadas para uso -Pfizer e Moderna, com duas doses cada– e a da Johnson & Johnson, de uma única aplicação.