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Itália retoma confinamento nas principais regiões para barrar terceira onda

Ana Estela de Sousa Pinto
Bruxelas, Bélgica (Folhapress)

Um dos países do mundo mais afetados pela primeira onda de Covid-19, a Itália vai endurecer e ampliar suas restrições mais uma vez na próxima segunda (15), para segurar o que vem sendo chamado na Europa de terceira onda.

"A memória do que aconteceu na primavera passada está viva, e faremos de tudo para evitar que aconteça novamente", afirmou o primeiro-ministro Mario Draghi.

Com mais de 3 milhões de casos desde o começo da pandemia e um total de 101 mil mortes, o país parecida ter controlado o contágio em janeiro, mas a situação se inverteu. Há quatro semanas consecutivas as novas infecções registram alta, atribuída principalmente à variante B.117, chamada de "britânica". Mais contagiosa e mais letal, segundo pesquisas recém-publicadas, a variante já levou ao caos o sistema de saúde de outros países europeus, como o próprio Reino Unido e a Hungria
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Nesta sexta, o número de testes positivos para Covid-19 na Itália superou os 26 mil, mais que o dobro das taxas do começo do mês, e, na última quinzena, 5.000 doentes foram hospitalizados e 650 novos pacientes, internados em UTI.

Para evitar um novo colapso hospitalar e um excesso de mortes, o governo italiano determinou que, a partir de segunda, as regiões da zona amarela passam automaticamente para laranja e reclassificou como vermelhas todas as que superarem 250 novos casos confirmados por 100 mil habitantes. Nessa categoria, na qual estavam até agora as regiões de Campânia, Basilicata e Molise, escolas de todos os níveis ficam fechadas e bares e restaurantes não podem receber clientes. A circulação só é permitida para trabalho que não puder ser feito de casa, emergências de saúde ou compras essenciais.

Pelas novas regras, devem entrar também no confinamento mais rigoroso as mais populosas regiões do país, como Lácio (região de Roma), Lombardia (onde fica Milão), Vêneto (onde está Veneza), Piemonte, Emilia-Romagna e Calábria.

No feriado da Páscoa, no começo de abril, todo o país estará na zona vermelha, com a exceção da Sardenha, única região considerada zona branca na Itália. Draghi, que assumiu como primeiro-ministro com alta aprovação popular há um mês, disse estar consciente de que as "medidas terão consequências na educação das crianças, na economia e no nosso estado psicológico como um todo", mas que o endurecimento das medidas é indispensável para evitar nova crise de saúde.

Pesquisas publicadas na mídia italiana mostram que o apoio ao confinamento não é majoritário, mas têm crescido: 44% dos italianos se disseram favoráveis ao confinamento no último final de semana, contra 30% uma quinzena antes. Para acalmar as objeções, Draghi prometeu anunciar na próxima semana um pacote adicional de medidas para empresas e trabalhadores afetados pelas restrições.

A pandemia colocou mais 1 milhão de italianos abaixo da linha da pobreza em 2020, de acordo com uma pesquisa do Instituto Nacional de Estatística, elevando o número de pobres a 5,6 milhões, ou 9,4% da população (contra 7,7% em 2019), maior taxa desde 2005.

Embora o premiè também tenha prometido triplicar o ritmo de vacinação no país –atualmente de 170 mil injeções por dia–, os planos podem ser afetados pela quebra nas remessas pelos fabricantes, que já fez o governo bloquear a exportação de 250 mil doses da AstraZeneca no começo do mês.

Mais do que a falta de vacinas, campanhas de imunização na UE têm sido afetadas por restrições impostas pelos próprios governos. Na Itália, foram aplicados até esta sexta 84% dos 6,4 milhões de doses recebidas. No caso do produto da AstraZeneca, menos da metade chegou aos braços dos italianos.

O país foi um dos que barraram inicialmente o uso da vacina em idosos e, nesta semana, anunciou a suspensão da administração de um lote, mas voltou atrás após recomendação da agência regulatória europeia.

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