Bolívia registra atos contrários e em apoio ao governo de Luis Arce

A polarização da política boliviana voltou a aparecer com força nos últimos dias, depois de pessoas saírem às ruas, na segunda (11) e na terça-feira (12), em manifestações contrárias e favoráveis ao presidente Luis Arce, do partido MAS (Movimento ao Socialismo) -o mesmo do ex-líder Evo Morales.

Na segunda, opositores bloquearam as ruas das principais cidades do país, no que foi considerado o primeiro grande protesto contra Arce, no poder desde novembro de 2020.

Os organizadores das manifestações acusam o atual governo de promover julgamentos políticos de opositores e criticam a tramitação de uma lei que, segundo os opositores, permitiria ao Executivo investigar o patrimônio de qualquer cidadão sem ordem judicial e obrigaria advogados e jornalistas a revelarem informações de clientes.

Os principais protestos foram registrados em La Paz, Cochabamba, Santa Cruz e Tarija.

Em La Paz houve uma grande passeata de sindicatos de comerciantes, que, embora não façam parte do bloco de oposição, rejeitam a lei em discussão no Parlamento. A polícia interveio com gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes e impedir o fechamento de avenidas.

Os protestos também atacam o que os opositores chamam de perseguição política, em referência aos julgamentos da ex-presidente Jeanine Áñez (2019-2020) e a processos envolvendo os prefeitos de La Paz, Iván Arias, e de Cochabamba, Manfred Reyes Villa; o governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho; e os ex-presidentes Carlos Mesa (2003-2005) e Jorge Quiroga (2001-2002).

Um dos casos de maior repercussão recente é o de Áñez, que assumiu a Presidência por meio de uma interpretação controversa da Constituição após a renúncia de Evo. Presa desde março -cerca de quatro meses depois da posse de Arce- ela responde na Justiça por acusações de conspiração, sedição e terrorismo.

Em agosto, a ex-presidente tentou se ferir na cela.

Ainda na segunda, Arce chamou os protestos de tentativas de desestabilizar seu governo. "A conspiração antidemocrática não foi derrotada definitivamente com as eleições do ano passado. Ela ergue a cabeça novamente, promovendo distúrbios e desunião entre os bolivianos, a fim de criar as condições para um novo golpe de Estado", afirmou.

Nesta terça, então, foi a vez de grupos favoráveis ao governo de esquerda saírem às ruas. Vários manifestantes carregavam a bandeira indígena whipala, adotada pelos movimentos socialistas como um significado de união entre os povos nativos.

No mesmo dia, o presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz (de oposição), Rómulo Calvo, chamou os manifestantes governistas de "ingratos e corvos". "Um trapo não faz nada, um trapo não nos representa; o que nos representa é nossa força, nosso trabalho, nosso esforço, nossa fé em Deus e o poder de buscar unidade para a Bolívia", disse ele, se referindo à whipala.

A fala gerou repúdio de governistas. O ex-presidente Evo Morales criticou a declaração. "Afirmar que a whipala é um trapo e que os migrantes são corvos e ingratos é a impotência de Calvo diante do fracasso da greve", disse. Já o chefe do MAS, Gualber Arispe, disse à imprensa local que apresentará uma denúncia penal contra Calvo, por racismo e discriminação.

Os protestos desta semana são mais um capítulo da crise política enfrentada pela Bolívia, desde quando a Presidência era ocupada por Evo. Em 2019, ele renunciou e deixou o país em meio a grandes manifestações -que deixaram 37 mortos- depois de tentar seu quarto mandato.

À época, a renúncia foi seguida pela de vários nomes que ocupavam cargos da linha sucessória, o que deixou um vácuo de poder no país. Com isso, a então segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Áñez, declarou-se presidente interina.

No ano passado, Luis Arce foi eleito pelo voto, consagrando a volta do Movimento ao Socialismo ao poder e a de Evo ao país.