Valuation: seus desafios e pontos de atenção

Por Thamiris Abdala e Anderson Fumaux

O crescente número de aquisições, fusões e cisões de sociedades bem como as oscilações dos preços das ações das empresas decorrem das atuais relações de mercado, pautadas pela globalização e competitividade. Além disso, a pandemia levou diversas empresas à falência e outras a repensarem seu modelo de negócios.

Por conta disso, tornou-se fundamental o conhecimento de metodologias que permitam avaliar o valor de uma organização.

Além de empresários e investidores que buscam melhores alternativas para aplicação de seus recursos, essa situação abriu um amplo campo de atuação para diversos profissionais da área de finanças, os quais passaram a se especializar no tema para atuar em processos de compra e venda de empresas, liquidações de sociedades e apuração de haveres.

A Teoria das Finanças e da Contabilidade fornecem conceitos e técnicas de avaliação de empresas, no entanto são as transações ocorridas de fato em um mercado, influenciadas por vários fatores circunstanciais, que determinam verdadeiramente o valor justo de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa.

Existem diversas empresas que possuem valor de mercado estimado em bilhões, enquanto o patrimônio líquido contábil registrado é de milhões. Onde está a diferença? No conceito de preço e valor.

Preço é o montante dispendido ou recebido pela compra ou venda de um bem ou serviço e valor é o benefício esperado pela utilização desse mesmo bem ou serviço. Um grande exemplo disso é o crescimento expressivo do valor dos ativos intangíveis.

Nesse contexto, torna-se necessário responder a seguinte pergunta: Como calcular o valor de uma empresa?

Através de uma análise quantitativa denominada “Valuation”.

Nesse contexto, valuation é um termo em inglês para Avaliação de Empresas que representa um conjunto de técnicas utilizadas para determinar o valor justo de uma empresa ou unidade de negócios bem como o seu retorno potencial.

Embora a técnica seja aplicada, em sua grande maioria, por grandes empresas, o valuation também passou a ser utilizado por pequenas e médias empresas (PMEs) de vários segmentos em sua jornada empreendedora.

Ainda que falemos que valuation é a busca do quanto de fato vale uma empresa, todas as avaliações se tornam tendenciosas, pois quem quer vender projeta cenários otimistas e quem quer comprar cenários mais conservadores.

Diferentemente do que muitos acreditam, modelos de avaliação mais simples tendem a ser melhores do que os mais complexos, pois estão menos suscetíveis a erros, embora alguns modelos necessitem de mais variáveis para a determinação do valor de mercado.

Embora existam diversas metodologias de avaliação de empresas, o método mais utilizado é a do fluxo de caixa descontado, pela qual a empresa é avaliada a partir da estimativa de resultados futuros descontados a uma taxa de desconto que equivale ao custo de oportunidade e ao risco daquele negócio.

Para a projeção, são levadas em consideração variáveis como: dados históricos, perspectivas futuras, análise macroeconômica, cenário político, concorrência, tendência para o segmento, dentre outros. Como não é possível projetar fluxos de caixa de forma indeterminada, as projeções envolvem dois momentos: o período previsível e o período não coberto pelo período previsível (valor residual).

Outro item que precisa ser observado é a taxa de crescimento durante o período de projeção, pois nem sempre o crescimento passado poderá ser utilizado como parâmetro para um cenário futuro.

Além disso, um dos pontos mais sensíveis na avaliação das empresas é a medição da taxa de desconto, em função de que a maioria dos modelos de risco e retorno exige estimativas a partir de preços históricos do ativo.

Para as empresas de capital aberto é possível mensurar essa variável através do coeficiente beta com base em empresas comparáveis no mercado, entretanto, as empresas de capital fechado não possuem esse indicador.

Para elas, torna-se necessária a criação de um beta “desalavancado”, desconsiderando o impacto da dívida em sua estrutura de capital através de empresas comparáveis, partindo do princípio de que um dos principais riscos de uma empresa se refere ao seu grau de alavancagem (utilização de capital de terceiros).

Diante de todas essas ponderações, conclui-se que mesmo tendenciosa em algum viés, a avaliação de uma empresa deve conter premissas factíveis que sustentarão o modelo matemático a ser utilizado.

Portanto, independentemente do porte da empresa, a fidedignidade do valuation dependerá diretamente da quantidade e qualidade das informações contábeis e financeiras disponíveis.

*Controller do Grupo Epicus

**Conselheiro de Normas Técnicas do Grupo Epicus