O que podemos aprender com os erros da UPP?

Por Rodrigo Bethlem*

O governo do estado lança o programa Cidade Integrada visando recuperar territórios que há muito tempo estão fora da cidade formal, onde a lei que impera é a da quadrilha da vez.

Ao longo de seis meses, foram estudados os erros do passado para que nesta nova tentativa não haja a decepção que todos tiveram com as Unidades de Polícia Pacificadora.

Acompanhei o projeto da UPP de perto. Quando começou eu era secretário de Ordem Pública.

Não considero que o maior problema para não ter dado certo foi a falta de programas sociais, como alguns alardearam.

O primeiro grande erro foi ser um programa da Polícia Militar e não do governo. Faltou transversalidade. Capitão da PM era quem autorizava evento na comunidade.

Este ordenamento deveria ter sido entregue ao município.

O segundo grande erro foi a Secretaria de Segurança admitir que bandidos pudessem continuar a vender drogas, desde que não estivessem armados.

Lembro da frase clássica que era dita à época:“droga se vende na Viera Souto e em vários endereços chiques”.

É verdade que isto ocorre, mas a Segurança Pública nunca poderia tolerar que bandidos continuassem a agir na comunidade.

Na época, a Polícia Civil não foi chamada para que uma ampla investigação fosse feita, os bandidos presos e as fontes de recurso asfixiadas.

Outro grande equívoco foi o rápido crescimento do projeto, sem que houvessem os recursos necessários para mantê-lo a longo prazo.

A sociedade vai precisar entender que a retomada destes territórios irá demorar décadas. Afinal, estão sendo ocupadas por muito tempo, por estas quadrilhas.

Não será em quatro anos que tudo estará resolvido.

Mais um equívoco das UPPs foi a falta de investimentos do estado em programas sociais e de urbanização.

Mas como já disse, não foi só isso.

Me parece que o governador Claudio Castro está atento a estes equívocos do passado. O importante agora é calibrar as expectativas da população do Rio.

Se for para recuperar uma grande comunidade por ano, fazendo todas as ações necessárias, que assim seja.

Existe uma cultura do ilegal e do informal que irá demorar um tempo para mudar.

Senti isto na pele quando implantei o “ Choque de Ordem”, na cidade do Rio.

Só com muito planejamento e persistência conseguiremos retomar estes territórios.

Estamos na torcida para que dê certo. Só assim salvaremos o Rio.

*Ex-deputado e consultor político