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O Brasil real esquecido entre dois palanques

Por Vinicius Lummertz*

Há diferenças entre fazer contas e fazer de conta; daí parte a distinção entre realismo e progresso e o populismo e atraso. Boas gestões públicas de cidades, estados e países começam e terminam na racionalidade.

Países que fizeram contas se desenvolveram. Foram realistas, trabalharam duro e pensaram grande. Tiveram gestão com planejamento. Suas populações reconhecem líderes e resultados.

A primeira decisão correta, contudo, ocorreu antes: na eleição. Apuradas, emergiu das urnas a intenção da população que valoriza o voto.

Alguns brasileiros não dão atenção para o que teclam na urna eletrônica; e normalmente não acompanham com seriedade os resultados daqueles que escolheram para governar. Preferem o Fla-Flu ora zombeteiro, ora irracional.

Por isso as eleições de 2022 serão as mais importantes da história do Brasil, com impacto na América Latina. Dirão muito mais sobre nós, brasileiros, e se retomaremos o caminho, sem atalhos, para um grande país ou ficaremos na galhofa e na chanchada - que talvez não sejam mero acaso, mas sim a nossa limitação.

Depois do chacoalho de 2018 a impressão é que houve um empobrecimento da política nacional. Desorientados, partidos atuam como os programas de auditório: se a audiência está boa, continuam, mesmo que o exibido seja a mentira da mulher barbada.

Assim chegamos ao trágico cenário de ver no palanque opositores que se alimentam mutuamente: Bolsonaro é cria dos desmandos do PT, que agora se apresenta com salvador da pátria. O Brasil não precisa de heróis com pés de barro, precisa de trabalho sério.

Os petistas elogiaram a decisão do governo espanhol em acabar com a reforma trabalhista, e o governo argentino de cancelar privatizações. O lulopetismo não fez as reformas necessárias, mesmo tendo ficado 14 anos de poder; fora dele, faz a única coisa que sabe: palanque.

Assim, o brasileiro tem a produtividade de um quinto do norte- americano enquanto nossos populistas tentam vender a miragem de que nossa vida possa ser diferente num passe de mágica. “O pobre vai comer frango” gritam em uma ponta; “ninguém vai obrigar o brasileiro a tomar vacina”, vocifera o contraponto. Junte os dois e invertemos o slogan de JK: voltamos cinquenta anos em três.

Figura de linguagem cruel, ter comida na mesa não é um favor de político – não dá para ser um país moderno aceitando manter um pé nesse coronelismo do voto de cabresto.

Precisamos de trabalho, do sustento que garante a dignidade da escolha. Necessitamos de educação, transporte, segurança e saúde, serviços públicos que são pagos com os impostos. Que esse dinheiro seja investido em favor do desenvolvimento, da criação de empregos. Não em emendas de relator ou financiamento de projeto de poder, como no mensalão – o que no fim dá quase no mesmo, mudando o nome da mosca.

O que governo fabrica, o que planta? Nada, mas pode atrapalhar um bocado como vimos nos últimos 20 anos. É fundamental pensar nisso na hora do voto.

Nota: se vivo, Leonel Brizola faria cem anos. A ele e a Darcy Ribeiro o reconhecimento pela criação que repercute até hoje: os CIEPS.

*Secretário de Turismo e Viagens do Estado de SP

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