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Artigo | Os desafios do distrato no mundo empresarial

Por: Sérvulo Mendonça*

Sabemos o quão importante é enfrentarmos os desafios que o mundo nos impõe ou que, eventualmente, aparecem à frente, mas esse breve artigo não será um mero relato sobre a importância de enfrentar desafios, e sim, sobre quando decidimos por não mais enfrentá-los. Há um enorme abismo postural entre fazer e desfazer negócios, acordos, e contratos, mas por quê? O que está acontecendo conosco? 

Estou no mundo corporativo, como empresário, desde 2007, e posso afirmar que fiz, desde então, vários contratos. Tive muitos desafios para construí-los, mas é um fato que a energia para construir algo é mais leve, mais receptiva, e até aí tudo bem. É compreensível que tenhamos atos posturais diferentes ao fazer ou desfazer acordos e negócios, é como arrumar as malas para viajar e arrumar para voltar da viagem. No momento da ida tudo vai dobrado calculadamente, no retorno já não estamos com essa preocupação, apenas estamos voltando... E tudo bem, faz parte. 

O que precisamos entender então? O primeiro ponto é que as coisas podem não dar certo, e isso não necessariamente foi ou será por falta da energia de uma das partes, o que até pode ocorrer, mas também não pode. É preciso, eu diria absolutamente primordial, que saibamos “arrumar as malas ao voltar para casa”.  

É correto afirmarmos que inteligência não é sabedoria. Somos inteligentes para fazer modelos e projetos, mas não estamos sendo sábios para desfazer. As pessoas estão levando para um lado muito pessoal, como se a partir de uma reta não pudesse mais haver uma curva. Perdoem-me, mas há várias, e se as coisas não vão se modelando, se ajustando, se adequando, chegará ao fim com o tempo. Repito: está tudo bem. Mas por que essa pretensão de acreditar que devemos insistir até irmos ao fundo do poço? Por que não podemos parar antes? Por que não podemos desistir? Que mal há nisso? 

“Distratar” não é virar as costas. É parar. E parar não precisa ser sobre relações pessoais, não precisa ser tudo, e obviamente se isso ocorreu foi porque não nasceu correto, e só um dos lados via satisfação. O mercado precisa de um grande amadurecimento comportamental. Enquanto as relações comerciais perduram, há conversa, por que não haveria quando acabam? Isso é um retrato de um País que não prepara pessoas para compor a grade dos problemas que a vida empresarial necessita, ou retrato de uma nação fraca, com medo, desconfiada de tudo e de todos.  

Estamos destruindo parte do mercado com baboseiras, parece que tudo que não é sequência então tende a ser destrutivo ou destruidor, mas quem disse isso? Quem afirma isso? É necessário rever esse posicionamento na “dor”. Parar não é perder, perder não é parar, as coisas seguem, na reta ou na curva, com ou sem você... acredite, o cemitério está cheio de pessoas que acreditavam que o mundo não continuaria sem elas. 

Podemos repensar? Podemos entender? Podemos admitir nossas falhas e assumir a responsabilidade por algo que não foi à frente? Não há culpados, mas sim responsáveis: eu, você, ele, todos. Tirando as relações que se desfazem por má fé, o que não precisamos nem relatar que transcende o que estamos escrevendo aqui, o fim das coisas acontece, ainda que em sua origem não tenha sido essa a intenção. 

Talvez isso tudo seja apenas falta de educação, quem sabe, e não uma educação familiar, como já dito, um ensinamento robusto para vida, para as relações, para o mundo. Pode também ser uma questão de dinheiro, mas nos casos que vivenciei não foi: ou não se ganhava nada, ou não se perdia nada, apenas se acabava algo num formato A para seguir num formato B. Mas estamos cegos, desesperados e despreparados, intoxicados com redes sociais frágeis, que não demonstram nada de ruim, afinal não enchemos nossos porta retratos com fotos ruins não é mesmo? Só há neles momentos bons. 

Se não é educação, se não é dinheiro, é pelo quê? Que possamos aprender, que possamos seguir mais livres para dizermos SIM e NÃO, ainda que saibamos que no NÃO a dúvida sempre irá passar pela cabeça da maioria. Eu voto no SIM, e você? Vamos aprender a falar e aceitar NÃO. 

*Sérvulo Mendonça, CEO do Grupo Epicus. Possui mais de 20 anos de atuação na área de Contabilidade de Gestão, com foco em projetos de Outsourcing, Compliance, Advisory e Auditoria.

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