Reinaldo Paes Barreto | Os cravos vermelhos

Por: Reinaldo Paes Barreto*

Às 0h20 da madrugada desse 25 de abril de 1974, caiu em Portugal um regime que se prolongava há 48 anos. O levante foi conduzido por oficiais intermediários da hierarquia militar (MFA), na sua maior parte capitães, que tinham participado das “guerras coloniais em África”.

Hoje, passado quase meio século e graças ao louvável esforço (e sacrifício) do governo português na direção de uma significativa recuperação econômica, Portugal é uma referência em inovação tecnológica, conectividade, agricultura de ponta, robótica e inteligência artificial.

Com destaque, ainda, para a mobilidade urbana, infraestrutura e responsabilidade ambiental, cuja joia da coroa é a expansão dos “moinhos” de energia eólica, e mais recentemente, a AJAP – associação de jovens agricultores comprometidos com a segurança agroalimentar e com a obesidade da população portuguesa.

Sem falar no marketing institucional apoiado por entidades empresariais do Estado português, como a AICEP, a ViniPortugal e outras, que propagam a cultura (o fado moderno, novíssimos escritores e cineastas), a defesa de suas commodities (Vinhos de Portugal, Turismo) e a defesa da Propriedade Intelectual (leia-se o incentivo à inovação).

Agora mesmo está no Rio, depois de passar por Brasília, uma delegação do INPI Portugal, presidido pela Ana Bandeira, a nos apresentar entre outros intercâmbios o recurso às “patentes provisórias”, em análise pelo INPI Brasil e pelo nosso Congresso Nacional.

Por outro lado (e com trocadilho!), desta margem do Atlântico, se estreitaram a relações bilaterais com Portugal, transformando Lisboa no perfeito “hub” para o resto da Europa.

Aliás, a sinergia espiritual, intelectual e comercial entre Portugal e o Brasil, vem de longe, sabemos todos.

E para não recuarmos à Colônia e Império, basta dizer já no fim do século XIX, estimava-se que os portugueses tinham mais de 55% de todos os estabelecimentos comerciais ou industriais registrados no Rio de Janeiro, o que representava quase 70% do capital circulante na praça.

E o topo dessa nova “elite lusa” não poupava esforços, nem recursos, para se inserir na sociedade carioca-brasileira, criando diversas associações, como a ACRJ, a Câmara Portu- guesa de Comércio e Indústria, o Mercado de São Sebastião, o antigo Centro de Abastecimen- to e Distribuição do Estado da Guanabara, (hoje Cadeg), o Real
Gabinete Português de Leitura, a Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência, o Liceu Literário Português, o Clube Ginástico Português e, ora pois, pois, o Clube de Regatas Vasco da Gama.

E continuamos a oferecer boas oportunidades para o investimento português no Brasil, sobretudo nas áreas têxtil, de energias alternativas, construção civil, turismo (transportes e hotelaria), telecomunicações, azeite, vinhos e gastronomia. Tanto que somos, atualmente, o principal destino do capital português fora da Europa.

Como remate positivo, vale registro que as caravelas que ajudaram Portugal a dar novos mundos ao mundo, segunda a feliz expressão de um pensador português, foram agora “promovidas” às fibras óticas da internet — a caravela do século XXI — que (nos) permitem conectar, em tempo real, esse contingente de quase 300 milhões de lusófonos que habitam nove países, em cinco continentes, e formam a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

A esse respeito, termino com as estrofes finais do belo poema que Manuel Bandeira dedicou ao “pai da língua portuguesa”.

“A Camões
Gênio purificado na desgraça,/Te resumiste em ti toda a grandeza:/Poeta e soldado... Em ti brilhou sem jaça/O amor da grande pátria portuguesa./E enquanto o fero canto ecoar na mente/Da estirpe que em perigos sublimado/ Plantou a cruz em cada continente,/Não morrerá, sem poetas nem soldados,/A língua que cantaste rudemente/As armas e os barões assinalados./Bem haja!”

*Colunista de gastronomia e vinhos e um dos embaixadores do Turismo do Rio.