Bethlem faz um duro raio-X dos problemas que Eduardo Paes tem enfrentado

Por Rodrigo Bethlem*

Ainda em 2008, quando integrava o núcleo da campanha do então candidato Eduardo Paes, pensava de forma entusiasmada o quanto seria importante alguém da minha geração assumir a prefeitura e resgatar a cidade do Rio que, com pequenos espasmos de melhora, vinha em franca decadência há décadas.

Já no início de 2009 começamos um processo de ordenamento da cidade, com a recém criada secretaria de Ordem Pública, na época comandada por mim, tomando medidas duras, mas necessárias naquele momento.

Logo depois, o Rio ganharia o direito de sediar as Olimpíadas de 2016. Parecia ser o momento perfeito para dar a grande virada.

Todos os cariocas se encheram de esperança com a possibilidade de somar esforços, por conta das Olimpíadas, resolver problemas crônicos, como mobilidade , segurança, poluição das lagoas e da Baía de Guanabara , dentre tantos outros.

Fomos enganados! Faltou dinheiro? Não! A números corrigidos a valores de hoje, nas duas primeiras gestões de Paes tiveram em torno de 60 bilhões de reais, entre recursos públicos e privados. Quase três vezes o arrecadado com a concessão do saneamento do estado.

Então, por que este volume de recurso não se traduziu na melhoria da qualidade de vida do carioca?

Decisões erradas, obras mal feitas e mal planejadas, como a do BRT, além da corrupção, que drenou recursos que nunca foram investidos.

Vejamos dois exemplos de PPP (parceria público privada),que consumiram muitos recursos sem o objetivo esperado. O Porto Maravilha, que iria transformar o Centro, é quase um deserto, uma década depois do início . A decisão foi errada. Ao invés de priorizar moradia e ocupar o Centro, o prefeito, para inchar os títulos que foram vendidos para o fundo do FGTS, preferiu priorizar a construção de unidades comerciais . Hoje, estes títulos (CPACS) estão encalhados no fundo do trabalhador e o Porto com baixíssima ocupação.

Para não falar da PPP do VLT, que virou um exemplo de como não se fazer uma PPP. O município garantiu aos concessionários, dentre tantos privilégios, uma demanda mínima de mais de 200 mil passageiros. Hoje, não usam este meio de transporte nem 50 mil pessoas. Significa que em algum momento esta conta chegará aos cariocas para ser paga. Sem contar o prejuízo que foi dado ao comércio do Centro, causando um enorme esvaziamento.

E as obras? O BRT, além de mal planejado e mal dimensionado, as obras foram de péssima qualidade, inclusive figurando em várias delações e acordos de leniência.

Sem contar a ciclovia que desabou, com vítimas fatais, dentre tantas outras obras que, em pouco tempo, já mereciam reparos e conservação.

Hoje, o atual prefeito, eleito para um terceiro mandato, sob a promessa que faria a cidade voltar a ser bem cuidada, e que resolveria todos os problemas pendentes, decorridos quase metade do seu tempo, parece estar em um labirinto administrativo sem saída .

O BRT, cuja a obra, a concepção e seus concessionários foram escolhidos na primeira gestão dele, após um ano de intervenção no sistema e a criação de uma empresa pública para gerir o modal, já gastou mais de 100 milhões. E o transporte só piorou, com cenas bizarras que são vistas pelos cariocas no dia a dia.

A conservação da cidade agoniza. A desordem urbana, com milhares de pessoas montando acampamento nas ruas, é algo nunca visto na história do Rio.

A Saúde, tão criticada por ele na gestão passada, conseguiu a proeza de atender no ano passado em relação a 2020, menos 30% de hipertensos, menos 20% de diabéticos, além do aumento de óbitos em praticamente todos os quesitos que consultei, inclusive por COVID, sendo que este ano tínhamos vacina e equipamentos.

Aliás a única coisa que esta gestão fez ao logo deste período, foi trocar as luminárias por LED, uma PPP feita na gestão anterior , que o atual gestor apelidou de “ luz maravilha “, para tentar esconder o real “ pai da criança”.

Me parece que sem os recursos extraordinários, que nenhum outro prefeito teve na história da cidade, o atual gestor , já quase no meio do seu mandato , não sabe muito bem o que fazer e parece mais interessado em exercer o cargo de presidente de partido (PSD) do que ser o mandatário da cidade do Rio.

Ao que tudo indica, nós cariocas iremos agonizar mais dois anos.

A COMPETÊNCIA SUMIU!

*Ex-deputado e consultor político