Os Legados do coronavírus

Por Luiz Felizardo Barroso*

Paralelamente às evidências no campo humanístico, social e coletivo, oriundas do Coronavírus, como a aparição de inúmeros e belos exemplos de solidariedade humana, há um outro legado o qual, sem dúvida, será o de chamar a atenção do ser humano, principalmente do lado ocidental, para a prevalência do coletivo sobre o individual, este senão, muitas vezes, bem egoísta.

Passaremos a ter, também, uma real e profunda transformação na estrutura organizacional das empresas, que passarão a encarar – até mesmo por uma questão de sobrevivência – a inexorável presença, cada vez maior, do virtual ou tecnológico. Eles serão substitutos do analógico e da presença física dos respectivos colaboradores, permitindo-lhes, além do home office, o acesso remoto, porém seguro, à rede corporativa fechada, por meio da internet doméstica, conhecida pela sigla em inglês VPN, a qual permite ao funcionário acessar sua própria máquina que ficou no escritório.

Empresas, como as de contact centers, que possuem um DNA sociológico, pelo fato de proporcionar ao jovem a oportunidade de seu primeiro emprego, há muito que, paralelamente à utilização cada vez em maior escala, da inteligência artificial, vem cogitando de proporcionar aos seus funcionários a possibilidade de um trabalho remoto, livrando-os dos respectivos transtornos e custos de seus deslocamentos físicos, aos seus locais de trabalho, bem como da imensa perda de seus preciosos tempos de vida, em cruéis, inúteis e absurdos congestionamentos.

O coronavírus, que nos está atingindo tão global e rudemente, não é o único "flagelo de Deus" recente, o qual temos a lamentar. Quanto ao SARS, que assolou a China, antes do covid-19, mais virulento até que este último, há quem afirme que ele deixou ao menos um legado positivo: tornou a China um dos líderes globais de comércio eletrônico, propiciando a ascensão da chinesa Alibaba, que ombreia com a americana Amazon.

Como subproduto benfazejo desta enorme tragédia, que está vitimando milhares de pessoas ao redor do mundo, graças aos modernos recursos tecnológicos de que dispomos hoje, inexistentes à época da peste negra ou da gripe espanhola, podemos esperar, nos recantos acadêmicos grandes progressos no ensino a distância, e, nos meios empresariais, uma revolução. dos pés à cabeça, obrigando-nos a repensar, em todos os campos da atividade humana, o que fazemos, e como o fazemos.

De reflexão em reflexão, enquanto não conseguimos ultrapassar esta fase aguda do flagelo que nos assola e desafia, obrigando-nos ao não convívio social (logo nós, que somos animais gregários), devemos nos agarrar a um pensamento positivo, muito bem sintetizado por Nelson Mandela:
"No enfrentamento de meus desafios, eu nunca perco. Ou venço, ou, então, aprendo uma bela lição".

Luiz Felizardo Barroso é presidente da Cobrart Recuperação de Ativos, e membro da Centenária Academia Fluminense de Letras (Cadeira nº 4)