Escolhas: está na hora do pragmatismo

Por José Luís Cardoso Zamith

Trago à reflexão algo que será extremamente importante de ser feito em curtíssimo prazo: escolhas. Deixe-me explicar melhor.

Nos últimos meses tivemos uma discussão totalmente concentrada na pandemia e, ao mesmo tempo, aqui no Rio de Janeiro, assistimos ao desenrolar do reality, aguardando ansiosamente pelo fim deste triste espetáculo. Acontece que está mais do que na hora de olhar para frente. Semana passada, no meu último artigo, elenquei o que considero como principais temas a serem perseguidos até 2022, porém isso não deve ser algo bancado pelo governante e imposto como uma agenda própria e não da sociedade fluminense.

A capacidade de manifestação propiciada pelas redes sociais fez com que os temas laterais ou secundários tomassem uma dimensão igual, ou às vezes maior, do que aqueles prioritários e emergenciais, potencializados pelos ideólogos dos meios de comunicação que querem impor o seu modelo de sociedade. Se o Estado faz, criticam; se o Estado opta por não fazer ou não tem meios para tal, criticam da mesma forma. Consequência: reforça-se o aspecto de paternalismo social onde o Estado é o responsável por tudo e inviabiliza-se a formação de um senso comunitário (direitos e deveres) cujo interesse individual necessariamente precisa construir um coletivo (e não de nichos como vemos hoje).

Não digo que governos não devam olhar e atender à demanda de grupos, mas hoje está valendo a máxima “quem faz mais barulho leva”. Aonde quero chegar? Está na hora de assumirmos de frente aquilo que vamos e o que não vamos fazer, sem ideologias e paixões. Como digo sempre, o cobertor é curto e alguma parte do corpo vai ficar de fora.

Assim, faço algumas provocações para que reflitamos exatamente o que queremos, já que também, como disse em artigo passado, sobra no máximo de 3 a 5% da nossa receita total para aplicarmos naquilo que não seja em salários, repasse obrigatório e vinculações. Portanto, pragmaticamente: como ficará a nossa cultura? E o turismo, será ajudado neste momento em que ninguém está viajando? Como ficará a manutenção de equipamentos e instalações públicas? E os projetos de infraestrutura, saneamento e esgoto? A Baía de Guanabara vai ficar esperando futuros empréstimos para continuar sua limpeza ou vamos aguardar para quando tivermos dinheiro? Como ficará nosso ensino profissionalizante? Aumento para o funcionalismo? Reposição de perdas salariais? Incentivos a setores da economia? E os programas assistenciais aos mais pobres? E suporte e apoio às minorias? Vamos continuar subsidiando as concessionárias de transporte neste momento em que a redução de passageiros é imensa? Como ficam os programas baseados no esporte que tiram crianças do tráfico e dão perspectiva de futuro?

Outras perguntas existem e são talvez iguais ou mais relevantes do que estas, mas fiz questão de ressaltar temas sensíveis porque será necessário que a resposta venha de imediato e que aceitemos suas consequências.

Deixaremos alguma coisa de lado para darmos atenção a nossa sobrevivência ou tentaremos fazer tudo ao mesmo tempo e mal feito? Não esqueçam: a gravidade da situação não nos permite continuar nesta eterna síndrome de pato, isto é, nadar mal, voar mal e andar mal.

Reitero: esta responsabilidade não é só do Estado, é de todos nós. Está na hora de exercermos agora as nossas obrigações, além de muita disposição para negar favorecimentos a A ou B.