A dupla face da vitória de Bolsonaro

Por Sérgio Batalha Mendes*

Os candidatos apoiados por Bolsonaro venceram as eleições para a presidência da Câmara e do Senado. As mais variadas análises tem destacado esta vitória de Bolsonaro, deixando de observar, no entanto, que ela trouxe aspectos positivos e negativos para o governo.

Em primeiro lugar, é importante destacar que o grande vitorioso foi, na verdade, o Centrão, um grupo de contornos indefinidos que viceja no Congresso a partir da disputa de verbas públicas e cargos no governo, qualquer governo é bom esclarecer.

Arthur Lira e Rodrigo Pacheco não são bolsonaristas, o presidente do Senado foi apoiado, inclusive, também por partidos de oposição, na perspectiva de que mantivesse uma condução equilibrada dos trabalhos parlamentares. Ambos deram declarações moderadas após a vitória, ressaltando a importância de ouvir o plenário de cada casa legislativa.

São típicos integrantes do Centrão, que votam com o governo na medida em que este atende seus pleitos. Assim, a vitória dos candidatos apoiados por Bolsonaro foi resultado da promessa de cargos e verbas públicas.

Por um lado, Arthur Lira deixará de fazer oposição pública a Bolsonaro e o governo terá melhor capacidade de articulação na Câmara.

Por outro, Bolsonaro tornou-se refém do Centrão e terá de distribuir verbas e ministérios para manter seu apoio. No caso de Pacheco, o ganho é nenhum, pois Alocumbre era mais alinhado com Bolsonaro, embora conduzisse com equilíbrio as votações no Senado.

O pior para Bolsonaro será a associação do seu governo com o Centrão e a corrupção que ele representa. É quase certo que, em breve, surgirão as primeiras denúncias de corrupção envolvendo os indicados pelo Centrão para ministérios e empresas públicas.

Bolsonaro foi obrigado, na verdade, a abandonar o seu discurso de “distanciamento” da “velha política”, perdendo parte da sua aura de político “antissistêmico” que o elegeu.

A verdade é que ele tentou, de fato, se afastar da política tradicional, não por honestidade, mas para implantar uma ditadura. Flertou abertamente com um golpe de estado, mas quando os militares resistiram ao plano, buscou uma via de sustentação política alternativa: fazer uma aliança fisiológica com o Centrão.

É equivocado dizer que a direita tradicional foi afastada da disputa de 2022 por força desta derrota ou que a oposição não tem chance em função de sua fragilidade no Congresso. A dinâmica da disputa das presidências da Câmara e do Senado quase nada tem a ver com popularidade ou com a eleição para o Executivo.

Os impactos para 2022 dependerão essencialmente do sucesso de uma agenda econômica que melhore a vida das pessoas. Caso fracasse, Bolsonaro disputará a eleição com todos os problemas atuais e também com a pecha de corrupto.

Portanto, a vitória de Bolsonaro tem uma dupla face que pode ser explorada pela oposição assim que o Centrão cobrar sua fatura.

*Advogado