O lançamento de Haddad e a unidade da esquerda

Por Sérgio Mendes Batalha*

Fernando Haddad lançou seu nome para a eleição presidencial de 2022, segundo ele, estimulado por Lula. O próprio Lula nada declarou até agora, mas o lançamento da candidatura provocou uma natural polêmica sobre a sua oportunidade e seus efeitos sobre uma possível unidade da esquerda. Lançar uma candidatura presidencial neste momento é um equívoco e não apenas por prejudicar uma possível unidade da esquerda. O melhor nome é sempre definido de acordo com a conjuntura política de cada eleição. Não há como avaliar esta conjuntura mais de um ano antes do início da campanha.

Em 2022, Bolsonaro poderá estar com popularidade alta ou baixa, de acordo com o desempenho do seu governo e a situação do país. Este dado é fundamental para a definição de uma candidatura. Se Bolsonaro estiver com 15% de intenções de voto, superado por outros dois ou três candidatos, pode ser mais interessante que a oposição tenha vários candidatos, até para excluí-lo de um segundo turno.

Por outro lado, cada candidato deve ser avaliado no momento do início da campanha, inclusive de acordo com suas intenções de voto do momento. Haddad teve boa votação em 2018, mas terá a mesmo desempenho em 2022? Outros candidatos podem aparecer com chances maiores, assim como o PT pode avaliar a hipótese de apoiar um candidato de outra sigla.

Em relação à sonhada unidade da esquerda, ela é importante em termos estratégicos para aumentar sua representação na sociedade. Na eleição de 2022 sua concretização no primeiro turno é complexa, não apenas por diferentes projetos para a sociedade, mas também pela necessidade de escolher um candidato forte e que forme uma aliança.

Hoje só Lula preencheria os dois requisitos e ele não pode ser candidato, ao menos até agora. Ciro Gomes é sempre um excelente candidato, mas só para os ciristas. Tem núcleo fiel de apoio na classe média, mas grandes dificuldades de ampliar suas intenções de voto e apoios. Há outros nomes, como Flávio Dino, ainda com percentuais pequenos de intenções de voto.

Enfim, não há como impor uma unidade artificial, com um candidato que não se imponha pela sua força e capacidade de articulação. Também não há sentido em buscar o lançamento precipitado de uma candidatura ainda sem consenso dentro do próprio partido.

O momento é de intensificar a oposição a Bolsonaro, inclusive na perspectiva de começar com as manifestações de rua. Este desgaste de popularidade é muito mais importante do que a escolha açodada de um candidato provisório.

*Advogado