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Afinal, projetos? Para quê?

Por Ernesto Ventura*

Em arquitetura, quem trabalha com projetos sabe a dificuldade que é o entendimento sobre a importância de um projeto. Não é raro ouvirmos alguém se vangloriando de ter feito algo e fazendo questão de mostrar como o resultado foi fantástico.

Confesso que tenho uma certa dificuldade de entender como alguém, respeitando a mesma lógica, não se propõe a fazer uma cirurgia no filho ou a extrair um dente da mulher ou da mãe.

Na realidade, a lógica não é a mesma. O exercício ilegal da profissão nos dois casos acima, além de poderem ser fatais, contam com uma ação firme das corporações que abrem processos judiciais, cuja condenação pode ser dura.

No entanto, na arquitetura isso não acontece. Em primeiro lugar, confunde-se planta com projeto, e em segundo, como todos vivem, trabalham e se divertem no interior ou no entorno de edificações, parece-lhes muito natural pensar nelas como algo tão simples, que qualquer um é capaz de “projetá-las”.

Quando assim não o fazem, buscam um “projetinho” junto a um profissional qualquer, que não lhes cobre muito “caro”, pois a prefeitura exige uma licença para a obra e, para fornecê-la, um projeto.

É importante esclarecer que não existem “projetinhos” (essa mania nacional de utilizar diminutivos para depreciar algo que não se considera importante), mas projetos e que eles não são plantas.

Projetos são conceitos, ideias, que, associados a necessidades e anseios, resultam na concepção de um objeto a ser construído. A planta é apenas a representação gráfica final desse processo, que poderia ser narrado, ao invés de desenhado em papel.

Um projeto é concebido de forma global, unívoca e harmônica, em três ou quatro dimensões, na mente de quem o pensa e, a partir daí, levado ao papel e nele desenvolvido, de forma a resultar, ao fim do processo, em um desenho em plantas e elevações ou em um modelo tridimensional que contém todas as informações necessárias à sua realização e construção.

Portanto, ao ver uma planta, tenha certeza de que, ali, há muito mais do que uma série de linhas curvas e retas associadas a palavras e símbolos. Antes desse desenho ser feito, houve uma pesquisa e levantamento de informações técnicas e legais sobre o terreno ou imóvel, métodos e sistemas construtivos adequados, materiais e dados sobre ideias, necessidades, desejos e possibilidades do cliente, que serviram de base a um complexo processo de elaboração mental, em que todas essas informações se transformam em um modelo tridimensional, com sua volumetria, aspectos plásticos e estéticos, solução estrutural, técnica construtiva e acabamentos principais.

*Arquiteto e urbanista

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