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Preocupante troca de guarda

Por Aristóteles Drummond*

É uma pena se constatar que os homens que fizeram o Brasil no século XX no front da imprensa, em geral, acabaram sem sucessão, no mesmo padrão da participação intensa na vida nacional, com idealismo, convicções e compromisso democrático.

Assim foi com Assis Chateaubriand, criador da maior rede de jornais, rádios e televisões do Brasil, e da revista de maior circulação na América Latina. Seu império, que tentou perpetuar nas mãos de companheiros, foi-se desgastando e hoje está muito reduzido e sem relevância. O Estadão trocou de mãos, sem a força moral e a coerência dos Mesquita em três gerações, assim como a maioria dos jornais do e TVs do Brasil. Só no Rio, foi-se a TV Tupi e a TV Rio, pioneiras, depois a Continental, a Excelsior e a Manchete.

Agora os rumores, que parecem bem fundamentados, como este Correio da Manhã e repetido pelo O Dia, colocou que as organizações Globo estariam sendo negociadas. Uma pena, pois Roberto Marinho herdou o jornal antes de um mês de lançado e teve de esperar um tempo para assumir, muito jovem. E daí surgiu esta organização admirável, na evolução e nos serviços prestados à democracia, como foi o apoio decisivo à Revolução de 31 de março. Outro jornalista empreendedor, incansável e modernizador foi Samuel Wainer, cuja biografia mais recente, de Karla Monteiro, é uma aula de meio século de imprensa e história no Brasil.

O centenário de Araújo Castro, grande jornalista, fundador do Jornal de Turismo e patrono do jornalismo voltado para este importante setor da economia nacional, foi bem lembrado pelo seu sobrinho e continuador Claudio Magnesita, na semana passada. Tive o privilégio de conhecer bem Araújo Castro, um exemplo de cordialidade e simpatia. Como conheci bem Chateaubriand, quando ingressei nos Diários e frequentava sua casa, no Rio e em São Paulo.

Uma empresa jornalística não é apenas fruto do empreendedorismo; tem um forte componente cívico e patriótico, um compromisso social e com a causa da liberdade, que é condição básica para a felicidade de um povo. E um compromisso com a comunidade em que atua, como é o caso deste jornal em sua relação com o Rio.

Caso se confirme a venda da maior organização de mídia do Brasil, que seja uma volta aos compromissos de Roberto Marinho, com a ordem, o progresso e a livre inciativa, pré-requisitos para a construção de um Brasil justo e progressista.

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