Mensagens pela prevenção

Por Jorge Jaber*

Praias e bares lotados, festas clandestinas, boates a pleno vapor. Máscara, distanciamento, obediência às regras? Nem pensar. Para uma parte dos brasileiros, independente da renda ou instrução, a vida segue seu curso, a pandemia é um passado distante, e o número absurdo de mortos, uma realidade paralela. Diante do quadro inquietante, duas perguntas se impõem. O que explica essa recusa obstinada ao cumprimento das normas? Como alterar esse comportamento?

Com sua Teoria das Representações Sociais, o psicólogo Serge Moscovici nos dá uma pista para ambas. Segundo ele, a formação de conhecimento é um processo coletivo, e o ser humano, diante de problemas novos e complexos, tende a crer em soluções aparentemente simples, que os resolveriam quase magicamente. Isso se aplica à Covid-19 no Brasil: criou-se um pensamento de grupo que minimiza sua letalidade e estimula sua disseminação, com efeitos catastróficos.

Essa percepção se cristalizou a despeito de todas as matérias e campanhas dos veículos de comunicação. Isso indica que o louvável esforço foi insuficiente, e, depois de um ano de pandemia, o trabalho de conscientização precisa levar em conta que a busca por trabalho e lazer é tão urgente quanto a prevenção. Para a maior parte dos brasileiros, o home-office é uma quimera, e se trancar em casa aos domingos depois de dias espremido num ônibus, um contrassenso completo.

A imprensa pode ajudar nesse processo, mostrando ser possível, com os devidos cuidados, levar uma vida perto da normalidade, e cobrando medidas de segurança para o trabalhador – mais transporte público e, neles, distribuição de equipamentos de proteção individual, como máscara e face shield, por exemplo Se eles são exigidos nas empresas, por que não nos ônibus e metrô? Isso pode ser caro, mas as vidas perdidas e o enfraquecimento da economia custam ainda mais. Com mensagens nesse sentido, mais propositivas, aumentaremos a adesão ao controle da pandemia, enquanto a solução definitiva – a vacinação em massa – não chega.

*Grande Benfeitor da Academia Nacional de Medicina e Professor de Psiquiatria da PUC-Rio