Por Jorge Jaber*
Nos primeiros meses de 2020, o mundo começava a se dar conta, perplexo, dos impactos da Covid-19. Ela criou um cenário novo e desafiador, e suas causas, efeitos e possíveis tratamentos se tornaram, com toda razão, o principal assunto em todo o planeta. Um ano depois, vivemos um momento paradoxal, pelo menos no Brasil: o número assombroso de mortes nos deprime, mas a esperança aumenta a cada dose de vacina aplicada. Governo e sociedade, não importa por que meios e independente dos erros cometidos, finalmente identificaram a vacinação em massa como a única saída. É um alento.
O trajeto é longo e acidentado, mas será percorrido, se possível aperfeiçoando as medidas de prevenção – distribuição massiva de máscaras e face shields, por exemplo. No entanto, mesmo com toda a população imunizada, a pandemia não pode ser apagada da memória. Precisamos absorver suas lições, aprender com os erros para evitar o surgimento de outras, ou enfrentá-las com mais eficiência. Pensar, enfim, no sistema de saúde mais adequado ao Brasil e suas necessidades.
Uma das lições da Covid-19 pode servir de base para este sistema: a necessidade da prevenção. A difusão de conceitos como higiene pessoal, alimentação saudável e atividades esportivas, somada à oferta de consultas regulares e exames periódicos à população, evitaria grande parte das doenças, ou diminuiria seus efeitos. Isso pode ser feito através de uma rede capilarizada de postos de saúde Brasil afora, com profissionais voltados ao atendimento básico. À primeira vista, pode parecer caro, mas o custo de tratar as doenças num estágio mais avançado é ainda maior.
Não se trata de uma questão ideológica. A saúde não é apenas um direito do cidadão, mas um ativo econômico. Uma população física e mentalmente saudável produz mais e, no final das contas, custa menos aos cofres públicos de governos de qualquer viés político. Que neste sete de abril, Dia Mundial da Saúde, as bases para um debate sério e equilibrado sobre esta questão sejam lançadas.
*Grande Benfeitor da Academia Nacional de Medicina e professor de Psiquiatria da PUC-Rio
