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Educação emocional para a paz e a prosperidade

Por Joaci Góes*

Anteontem, 6/4, participamos como convidado da Terça Distópica, programa comandado pelo poeta, escritor e professor Ney Campello, para falar sobre o ódio, o Gigante Rubro, na expressão do psicólogo cubano-espanhol Emilio Mira y López, no clássico Os Quatro Gigantes da Alma, como fator disruptivo das relações humanas em todos os domínios, particularmente, na família, no trabalho e na sociedade, consoante a abordagem do tema em nosso livro Anatomia do ódio. O ódio é tão insidioso que dele se vale o mais pestilento dos pecados, a inveja, para atuar de modo sub-reptício, em face de sua absoluta inconfessabilidade. Apesar de toda a sua malignidade, o ódio é um sentimento tão inerente aos animais quanto a sede, a fome e o cansaço.

O corpo e o psiquismo humano formam um todo sinérgico-sistêmico. Nada ocorre em qualquer parte desse universo sem afetar o resto. Os sentidos captam ondas que são transmitidas ao cérebro, onde se processam as emoções que comandam nossa conduta e sentimentos, emoções-mensagens que são quimicamente transmitidas ao sistema nervoso, alterando o diâmetro dos vasos arteriais e afetando o ritmo cardíaco. Todos os órgãos são afetados, como o trato digestivo, os pulmões, a pele e a musculatura. Constrangida, a pessoa ruboriza; com medo, empalidece e sua frio; aterrorizada, eriçam-se os pelos; com ódio, a pele avermelha-se. Advirta-se que o inconsciente se rege por regras distintas das que orientam a lógica clássica, e que o raciocínio só explica os seus efeitos em caráter aproximativo. Por pensar assim, talvez, Nietzsche tenha dito, com muita razão: “Pensamos com os nossos corpos”.

Entre os animais agressivos, o homem é o único dotado da Wille zur Macht, vontade de poder. É, também, o único que pode destruir sua espécie, como no suicídio e nas diferentes modalidades de extermínio, a sangue-frio, desde o assassínio individual à hecatombe das quinze mil guerras até hoje contabilizadas.

Pela reação dos telenautas, de elevado padrão, resultou o reconhecimento da implementação de um generalizado programa de educação emocional como necessidade de primeira grandeza para que possamos debelar a peste do ódio e da agressão que vem corroendo a qualidade da convivência da família baiana e brasileira, numa intensidade e abrangência muito acima da média mundial, de que são prova os crescentes índices de violência que ensombrecem nossa paz individual e coletiva. Quando não mata, o ódio abre feridas cuja cicatrização enrijece o tecido da afetividade, tornando-nos menos sensíveis e tolerantes.

Não se trata da utopia de erradicar o ódio, instinto animal que nosso sistema neural primitivo nos adverte para a necessidade de fugir ou enfrentar o perigo que nos ameaça, mas da criação de uma cultura que enseje a canalização construtiva do seu extravasamento, de um modo que se encontra ao alcance de quem queira incorporá-la à sua rotina existencial, como já praticado por pessoas e grupos sociais, na geografia e no tempo.

Não vemos medida mais eficaz, mais barata e mais necessária do que essa, com a vantagem de começar a produzir resultados imediatos, proporcionalmente ao ritmo de sua implementação, graças ao arsenal pedagógico, de testada confiabilidade, nos domínios da arte-ciência de sua utilização para reduzir as consequências do ódio e da violência, na geração de feridas no corpo e no espírito. Em lugar do recurso a medidas paliativas, de efeito duvidoso e temporário, a tarefa de lidar de modo consistente com o ódio é um programa para toda a vida.

Ao final da entrevista, sugerimos a Ney Campello propor a criação de um grupo de trabalho, composto por lideranças de todos os setores da sociedade baiana, coordenado pelo Governador do Estado, destinado ao fomento imediato de um programa de treinamento da população para lidar construtivamente com o ódio e seus consectários.

*Advogado, empresário e jornalista

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