Brincando de bonequinho de chumbo

Por Jolivaldo Freitas

O presidente Jair Bolsonaro voltou a repetir, agora mais amiúde a expressão “meu Exército”. Como um garoto que abre a caixa de papelão e olha seus soldadinhos de chumbo prontos para formarem pelotões em cima do tapete e saírem enfrentando as forças napoleônicas. Ocorre que o uso da frase enquanto agrada e “comove” uma nesga de fardados, o que se vem mostrando é que a imensa maioria dos oficiais – mesmo do generalato – se acha incomodado.

O incômodo vem da expressão ser usada para chantagem política e para encetar medo nos oposicionistas do governo. O que está embutido no dito de Bolsonaro nos últimos tempos, é que se a oposição não se comportar, com certeza que ele pode colocar o Exército nas ruas e dar um golpe. Mas, esse golpe pode mesmo acontecer? O presidente pode ser meio tosco, mas burro não se apresenta e sabe que se já corre risco colocando militares em funções ao seu derredor, imagine o risco de trazer os militares de vez para o cume do poder, mesmo que entenda que eles serão apenas pelicas ao seu favor. Na verdade, a história nos mostra que desde sempre a presença dos militares na zona do poder não é algo que se possa ter controle nas mudanças de rumo.

Vejamos o Regime Militar brasileiro. Os militares chegaram ao poder enebriados que estavam com o clamor popular e o apoio dos jornais, contra uma esquerdetização do país. Galgaram o poder assegurando que era apenas para “passar uma chuva”, colocar ordem no ambiente e foram tomando gosto e o que se viu foram as décadas de poder militar em que o Brasil virou país grande e na mesma proporção ficou pequeno de novo. Tudo isso graças aos militares que caíram no conceito popular. Conceito que melhorou muito nessas décadas seguintes à redemocratização, justamente por consciência do seu papel.

Pois, o jogo palaciano de usar as Forças Armadas que havíamos esquecido desde Fernando Collor, Sarney, Itamar. FHC, Lula Dilma e Temer, voltou a fazer parte do cotidiano do Alvorada e do Planalto, seja na sala de reunião, copa, cozinha ou {a beira do lago). Mas é bom saber que um golpe é algo cada vez mais difícil porque tanto os políticos como os militares aprenderam que na vida tudo tem de ser acordado. Avaliado se é do agrado geral. No momento presente não o é. Amanhã será um novo dia.

* Escritor e jornalista