Mundo “figital”: um desafio presente para o futuro

Por Francisco Guarisa*

Indiscutivelmente, a tecnologia trouxe avanços para a sociedade em múltiplos aspectos. Com apenas um clique tomamos decisões importantes, que causam impactos relevantes em nossas vidas, como a abertura de uma conta digital ou a aquisição de produtos ou serviços, entre outras. Em tempos recentes, com o isolamento social provocado pela pandemia do Coronavírus, esta interação digital foi potencializada ao extremo. Como exemplo, vimos uma explosão de transações e interações no varejo online, no entretenimento cultural virtual e até mesmo nos atendimentos e apoios psicológicos.

Não tenho dúvidas de que esta hiper interatividade digital proporcionou uma série de opções e comodidades ao nosso dia a dia, além do fato de que permitiu uma melhoria no fluxo da informação, mais segurança na experiência do usuário e nas relações entre produtos, serviços e clientes. Porém, será este um novo paradigma nas relações humanas ou uma situação momentânea que se estabeleceu por uma necessidade premente? Tenho minhas dúvidas e pesquisas recentes embasam esta reflexão.

De acordo com o Instituto GFK, em pesquisa do 1º sem/2020, aproximadamente 50% dos consumidores brasileiros buscam informações e/ou opções de pagamento em ambientes físicos e digitais, quando na aquisição de produtos ou serviços. A pesquisa mostra ainda que 3% dos brasileiros que pesquisam offline, fecham a compra online, e 15% realizam o processo inverso. Além disso, 24% pesquisam on-line e offline, mas a finalização da transação é em lojas físicas. A amostra ressalta ainda que 14,5% dos consumidores usam somente ambientes digitais para a tomada de decisão de compra e cerca de 36% vão em ambiente físico.

Outra pesquisa, a Global Digital Overview 2020 feita pelo site We Are Social em parceria com a ferramenta Hootsuite, aponta que o Brasil possui 205,8 milhões de linhas de telefone celular, equivalente a 97% da população. Já o acesso à internet atinge 150,4 milhões de brasileiros, aproximadamente 71%, enquanto os usuários de redes sociais chegam a 140 milhões de pessoas, 66% do total da população. Ainda assim, vivemos em um país tecnologicamente desigual, onde o acesso à internet é predominantemente urbano, de classe A/B e mais de 25% da população ainda não possui este “privilégio”, de acordo com a PNAD de 2019.

Diante destes dados de consumo e perfil, me permito inferir que o Brasil pós-pandemia será, como dizem os experts do segmento, cada vez mais “figital” ou “phigital”. Uma combinação harmônica de ambiente físico e digital na geração de negócios. Estudos também mostram que empresas em todo o mundo estão percebendo a importância de investirem em estratégias omnichannel (multicanal) e não será diferente no Brasil, não só para acelerar o processo de vendas, mas também para melhorar relacionamento e experiência com seus clientes.

Apesar de estarmos cada vez mais imersos em um universo digital, acredito que a troca de experiências reais continuará tendo enorme importância nas relações humanas e na geração de negócios. Não podemos esquecer que somos seres humanos e, como tal, necessitamos de um mundo real. Espero que a sociedade impulsione as empresas, mais e mais, por ofertas e soluções integradas, criativas, colaborativas e em sintonia com cada realidade e experiência de vida. Soluções que só poderão ser oferecidas e bem-sucedidas se o melhor desses dois mundos estiver harmonicamente unido.

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão