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O Valor dos Valores

Por Francisco Guarisa*

Nos últimos meses, temos presenciado globalmente um volume significativo de perdas humanas, em função desta loucura pandêmica. No Brasil, perdemos artistas, atletas, políticos, médicos, enfermeiros, irmãs, irmãos, pais, avós, filhos, amigos, amigos dos amigos, conhecidos ou desconhecidos. Tudo em função de um vírus que não distinguiu origem, cor, credo, posição socioeconômica ou orientação sexual.

Sem qualquer pretensão de análise político-econômica, inevitavelmente, este fato nos faz repensar a vida, seu valor, preço e custo. É chegado o momento de olharmos adiante, refletirmos e tomarmos decisões. Contudo, essas decisões precisarão ser sustentadas por valores. Mas o que entendemos como valor? Ou, até mesmo, quanto vale a vida? Esta pergunta me remete a uma outra, dita pelo Prêmio Nobel da Economia em 2005, Thomas Schelling, quando no final da década de 1960 fez uma releitura com um olhar mais econômico, da seguinte forma “quanto custa reduzir o risco de morrer?”. Percebe-se também um viés estatístico, ao valorizar as palavras redução e risco, muito usadas em tempos atuais.

Mas, voltando à pergunta “O que entendemos como valor?”, aproveito para incluir outro questionamento “Quais valores continuarão permeando nossas vidas e quantos outros se agregarão?”.

O valor é uma qualidade que pode “chancelar” indivíduos ou objetos, de forma positiva ou negativa,
objetiva ou subjetiva, tangível ou intangível. Ele envolve até qualidades relacionadas diretamente com a Ética, como humildade, honestidade, solidariedade e responsabilidade. Nossas escolhas são balizadas pelos nossos valores e acabam fazendo com que essas decisões moldem nosso “modus vivendi”. Elas são potencialmente individuais, mas em determinados momentos podem ser baseadas em valores coletivos. Resumidamente, um conjunto de valores é que faz com que uma pessoa ou organização se comporte e se relacione na sociedade.

O problema atual é que a globalização nos direcionou a um sentido de urgência que se enraizou nas relações pessoais e profissionais, potencializado pelas redes sociais. Ele está interferindo nos nossos valores, na medida em que acelera nosso processo decisório e nos impulsiona a tomar decisões que podem ser efêmeras, inconsistentes, que em determinadas situações não condizem com alguns valores preestabelecidos. Precisamos de equilíbrio na tomada de decisões e o mundo tem ultrapassado os limites aceitáveis de velocidade. Uma resposta não encaminhada via aplicativo de mensagens, por exemplo, pode se caracterizar como desdém e, dependendo não só do tempo, mas do tipo de resposta, a reação pode ser adversa. Tempo é um recurso não renovável e sua administração, fundamental. Precisamos dar a ele o seu devido valor. De qualquer forma, acredito que nenhum valor nos isentará, neste contexto, de nossas responsabilidades, sejam elas políticas, econômicas ou sociais. Estamos diante de uma grande encruzilhada, onde esse mundo acelerado evidenciou dicotomias extremas, que assumiram uma incrível dimensão de valor (olha o valor aí, de novo) nos mais variados aspectos, como: Esquerda x Direita, Verdades x Mentiras e Vidas perdidas x Perdas econômicas. Isso tudo sem buscarmos um consenso pacífico para soluções urgentes e necessárias, que priorizam a vida acima de tudo e de todos.

Um ponto que considero indiscutível é que precisamos desacelerar e ressignificar alguns valores, sejam eles para nossa vida pessoal ou profissional. O valor da saúde, diretamente ligada à qualidade de vida e harmonia física e mental; o valor do trabalho, com todas as suas novas possibilidades de relações; o valor da solidariedade, com a necessidade de enxergarmos o próximo e termos mais atitudes colaborativas; o valor do meio ambiente, em função de vivermos em um planeta doente, que precisa urgentemente de cuidados; o valor da diversidade, respeitando todas as formas de ser e de amar; e o valor da espiritualidade, muito além de religiões, amparada pela fé, buscando harmonia interior e uma maior compreensão do Universo. Uma releitura que assuma um novo propósito, vencendo resistências e redefinindo um novo modelo para suas relações. Até porque, qualquer relação, transação ou negócio só fará sentido se todas as partes interessadas entenderem que ela tem valor para ambos, existindo acima de tudo o entendimento de que nada adiantará se não tivermos dentro de nós o valor maior: o valor à vida.

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão

 

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