CPI da Coivd - entre o despautério e a utilidade pública

Por Gutemberg Fonseca*

Gosto da filosofia que se extrai dos contos infantis que de maneira lúdica e sútil nos fazem refletir sobre os temas cotidianos. Um dos contos infantis presentes em todas as gerações – Alice no País das Maravilhas – criado pelo romancista inglês, Lewis Carroll, tem uma interessante passagem no diálogo entre um matreiro gato e Alice, diante de uma bifurcação em sua trilha, ao indagar sobre qual o caminho ela deveria seguir, dizendo que não sabia para onde ir, ouviu a filosófica resposta do felino “... para quem não sabe aonde quer chegar qualquer caminho serve...”, ao assistir alguns episódios da trama politicamente dirigida da CPI DA COVID, essa é a sensação que se tem, de que não se sabe o caminho a seguir, pois não se tem ideia a que destino se quer chegar, ao menos para população brasileira. O caminho político, esse sim, parece estar bem traçado e delineado com a espetacularização dos tristes números de mortos que até o momento nenhum país do mundo tem sua justa explicação, porém os oportunistas de todos os setores se utilizam para autopromoção, incutindo na mente das pessoas de que o inimigo é outro e não o vírus. Politizando fatos e dados científicos em busca de holofotes e um perigoso apoio midiático que no momento em que o País atravessa, não parece contribuir para ultrapassarmos esse túnel sombrio no qual fomos inseridos pela COVID 19.

Assim, a CPI que mais interrogações do que respostas têm trazido à população, deve rever o seu papel, especialmente seus integrantes devem refletir que ali estão para cumprir o primeiro mandamento estampado na Constituição que diz: todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.

Cabe lembrar que sob o aspecto financeiro, o governo federal liberou cerca de cento e setenta e três bilhões de reais a estados e municípios, dos quais, cerca de sessenta bilhões foram destinados ao combate a Pandemia, nesse contexto, o papel de investigar o uso desse dinheiro e a forma como foi administrado, cabe aos Tribunais de controle da União, Estados e Municípios, não sendo esta uma função do Senado, que nesse momento parece estar querendo mais uma vez, auto promover alguns futuros permanentes candidatos, invertendo valores e novamente tentando valer-se da velha politicagem para autopromoção de sua imagem, pois nunca se viu uma investigação sobre o doador do dinheiro e não sobre quem fez mal uso dele, tal como está sendo nesta CPI.

Deixando de lado a embriaguez causada pela vaidade político partidária, a população clama que nossos representantes busquem proposições de solução, pois estamos na reta final desta quadra fúnebre que a humanidade se encontra, porém o mal ainda não acabou e haverá vida e política após a pandemia. Na frase feliz da escritora Anais Nin, há uma lição para nossos ilustres representantes do Senado “...nós não vemos as coisas como elas são, nós a vemos como nós somos.” Qual a resposta que nesse momento a população realmente precisa que seus representantes persigam - quem é o político culpado? Ou qual o caminho para o mais breve possível sairmos desse sombrio túnel da pandemia? Assistindo os nossos representantes parlamentares na CPI da Covid, tenho a sensação que eles vão dizer que a culpa é do Cabral.

*Gestor público. Foi Secretário de Governo e Secretário de Ordem Pública do Rio de Janeiro