Zuzu Angel: viva o seu centenário

Por Hildegard Angel*

Zuzu Angel significou o ponto fora da curva na moda em nosso país, o ponto da consciência e da virada. Pois foi a primeira a denunciar a colonização mental e cultural de nossos criadores de moda, até mesmo os mais talentosos, que condicionavam suas criações aos padrões importados, sejam de estilo, técnica, cor e até de altura da bainha.

Zuzu foi um Norte, uma bússola. Apontou o despropósito de os artistas da moda brasileiros, nesse país inspirador, solar, colorido, intenso em sua História, suas alegrias e dores, festas populares, heróis, mitos, flores, pássaros, matas, minérios, irem buscar inspiração, beleza e regras no Velho Continente cansado de guerra.

Zuzu rompeu com essa ‘prisão cultural’ e voou com os pássaros, se lambuzou com as mangas carlotinha, admirou matas, cheirou flores, ampliou limites e até ousou denunciar opressão, torturas, política assassina do Estado brasileiro na Ditadura Militar, com seus vestidos pueris, singelos, cheirando a quintal varrido das cidades do interior, com suas rendas coloridas balançando no varal, com suas toalhas de mesa de renda do Norte vestindo noivas, com suas contas de jacarandá, os bambus e as conchas bordando vestidos.

Enfim, Zuzu foi o Brasil que era omitido em nossa moda, como se ela se envergonhasse dele e só vestisse “tailleurs”, “drapées”, “pied de poule”, e outros termos franceses, em vez de babado sim, babado não, bordado também, franzidos e fuxicos.

Zuzu foi mineiramente inteira no que produziu, e deixou o legado da elegante legitimidade, da franqueza pueril, da moda com sotaque da nossa História.

*Jornalista