Um brasileiro a ser lembrado

Aristóteles Drummond

Amigos, admiradores e familiares de Murilo Badaró começam a esboçar um livro com registros e depoimentos sobre a vida do ilustre e exemplar homem público brasileiro, de carreira integralmente dedicada a Minas Gerais e a democracia no Brasil. Murilo Badaró tem história, carregava nas veias o sangue de notáveis e exemplares mineiros, que impuseram a ele um sólido compromisso ético, moral e cívico, que nortearam mais de meio século de vida pública.

Mas não se limitou a isso, sendo deputado estadual e federal, senador, ministro de Estado. Foi homem de cultura, ligado na literatura, na história, na música. Presidiu com grandeza a Academia Mineira de Letras, com correção, autoridade moral, fazendo da casa, que tem como presidente de honra Augusto de Lima.

Foi o correto biógrafo de contemporâneos na vida pública, como os udenistas – adversários, portanto – Milton Campos e Bilac Pinto e os pessedistas como ele, Gustavo Capanema e José Maria Alkmin. No compromisso com suas origens, no sofrido Vale do Jequitinhonha, com quase aos 80 anos, ele foi ser prefeito de Minas Novas, num exemplo digno de honrar o povo que o viu nascer e a seus maiores.

Um aspecto de sua grandeza, humildade, espírito conciliador foi quando chegou a sua vez de ser o candidato indicado pelo regime, na eleição de 78. Como sempre, ele deu prioridade à união das forças do centro-democrático e aceitou ser preterido, indo para o Senado. Não criou dificuldades ao surpreendente indicado, sem presença relevante na Arena, nem no lado da UDN nem no PSD. Foi atropelado pela presença no Planalto do presidente Geisel, homem que não tinha nenhum compromisso com a Revolução a que Murilo serviu com lealdade e coragem. Aliás, Badaró foi coerente em todos os momentos de sua longeva carreira, ao contrario daquele beneficiado por Geisel, que passou a negar o passado ligado ao regime que o beneficiou.

O fato de ter feito a Revolução e a ela ter permanecido fiel, nunca impediu que ele mantivesse seu apreço e respeito por JK, que sabia não ter merecido a perda dos direitos políticos em 64, uma vez que não era corrupto nem ligado a ideais esquerdistas.

O correto biógrafo merece um livro que, além de biográfico, relate testemunhos de uma vida correta em todos os sentidos.