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O Brasil há muito deixou de ser o país do futebol

Gutemberg Fonseca*

Fui árbitro de futebol profissional, tendo alcançado o topo da carreira como integrante dos quadros da FIFA. Pendurei minhas chuteiras, mas a paixão pelo futebol continua acesa, ainda sou um entusiasta, empolgado ao ver nosso País sendo mundialmente representado pela nossa seleção brasileira. É bem verdade que a pátria de chuteiras, há muito deu lugar, aos embates políticos fomentados pelas notícias que pululam nos hebdomadários, achatando o espaço do futebol até mesmo nas mesas de bar, onde aquela velha e gostosa discussão sobre o clássico do dia anterior passou a dar espaço às opiniões políticas e as tramas policiais que as envolvem, dizem por aí que atualmente o cidadão sabe nominalmente a composição dos 11 ministros que compõe o STF, mas não sabem informar a escalação da seleção brasileira.

Nelson Rodrigues, consagrado escritor nacional, se importava somente com o drama, a tragédia e a paixão que o futebol provocava nas massas, um dia ele escreveu que “... só os idiotas da objetividade (como ele classificava os intelectuais), é que não enxergavam o óbvio ululante”. Nos últimos dias pude observar que o futebol deixou os campos e se enveredou na política e assim como seria sofrível ver qualquer parlamentar de chuteiras em campo, tem sido lamentável assistir atletas e profissionais multicampeões da bola, tentando posicionar-se no campo político. Os intelectuais da bola tentando descalçar as chuteiras e vestirem as gravatas. Com todo o apreço que tenho por cada um destes brilhantes atletas e profissionais, mas não há espaço no campo político para amadores, tal como o futebol profissional requer preparo físico e habilidades quase que natas, a política exige conhecimento intelectual e científico que ultrapassam as quatro linhas do campo e se fixam dentro das linhas da Constituição. Atletas que não moram mais no País, que usufruem o melhor que as cifras milionárias que o futebol proporciona tentando discursar sobre temas sensíveis da política nacional soam no mínimo como hipocrisia.

Como estamos a observar diversos campeonatos estão em curso no cenário nacional e estrangeiro, tendo até aqui, todos seguido os protocolos sanitários. Na América latina, o Brasil tem se posicionado de maneira bastante responsável quanto a pandemia, sendo um dos Países que lideram o ranking da vacinação e dos protocolos sanitários dentro do nosso continente. Diante disso, um posicionamento político imaturo de atletas profissionais, mas se aproxima da conhecida expressão no futebol de “jogar pra torcida” do que de um efetivo protesto que revela alguma fundada razão de insatisfação social. A essa altura do campeonato o que o país precisa é de coalisão, engajamento de todos os setores em favor da vida, na luta em face de uma devastadora doença. Sem união nenhuma equipe de futebol alcança a vitória, o entrosamento e espírito coletivo transformam uma equipe em vencedora, assim os atletas e demais formadores de opinião, precisam calçar as sandálias da humildade, deixar de lado a hipocrisia e o discurso vazio deixando de politizar e achar um culpado onde o inimigo já é mundialmente conhecido, o vírus, a vida tem que continuar e seguindo as regras da Constituição, temos que buscar a vitória sobre este terrível momento, pois o jogo só acaba quando o juiz apita.

 

*Gestor público, ex Árbitro da FIFA, ex-Secretário de Governo e ex-Secretário de Ordem Pública do Rio

 

 

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