Por Ernesto Ventura*

A solução não é novidade. Em vários países, e mesmo em diversas de nossas cidades, vamos encontrá-los. Falo dos prédios híbridos, onde as unidades comportam atividades residenciais, comerciais e laborais simultaneamente.

Com o advento da pandemia de Coronavírus e do “home office”, fica claro que permitir modelos diversos de ocupação e uso em uma mesma edificação é uma solução. Além de desejável, pelas vantagens que apresenta quando à diminuição dos custos, dos deslocamentos, do consumo de combustíveis e do tempo individual e coletivo entre outras, é também recomendável como uma modalidade a ser considerada na legislação urbanística de nossas grandes cidades, com potencial de trazer transformações muito positivas à vida de suas populações.

A elaboração de projetos nesse modelo, reservando pavimentos ou áreas diferenciadas para cada atividade, otimiza recursos e infraestrutura e permite uma melhor distribuição dos fluxos de pessoas ao longo do dia, dando também às regiões onde forem implantados, um incremento na interação de membros da população local e propiciando um sentido de vizinhança mais consistente.

Imagine-se um prédio de dez andares, que tenha seis deles reservados para residência permanente e também temporária (hotel), e os demais voltados a serviços de uso coletivo, como academias, salões de beleza, pequenas lojas de conveniência, espaços de cooworking, escritórios e consultórios. Ainda podemos considerar acrescer todos ou parte das demais possibilidades já oferecidas nos condomínios prediais residenciais e já conhecidas e espalhados pelas diversas regiões das cidades. São os salões de festa, espaços coletivos de alimentação e convívio e tudo que se possa imaginar como espaços agregadores. O comércio de rua, também importante, permanece como uma opção nos andares térreos e de acesso.

Enfim, cabe aos legisladores, com a participação da população, formular o regramento mais adequado ao modelo, dando-lhe a melhor formulação de maneira a atender a todos os potenciais usuários. É preciso não esquecer a importância, as implicações e influências de quaisquer modelos sobre as estruturas e o funcionamento de bairros e regiões de uma cidade.

É natural que as cidades e suas infraestruturas sofram adaptações e ajustes, ao longo do tempo, conforme usos e costumes de suas populações se transformem e novos recursos tecnológicos se tornem disponíveis.

Nesse contexto, os modelos prediais, o uso e ocupação dos espaços naturais e construídos e as necessidades e demandas das populações devem ser sempre objeto de atenção daqueles que estão permanentemente envolvidos na atividade de pensá-los, elaborá-los e trazê-los à realidade.

*Arquiteto e urbanista