Ações contra o fumo

Jorge Jaber*

O número de fumantes no Brasil caiu 40% entre 2006 e 2019, segundo o Ministério da Saúde. A redução ocorre desde o final da década de 80, fruto de uma série de medidas, como campanhas de conscientização e oferta de tratamento contra a dependência, entre outras, num trabalho reconhecido mundialmente.

O dado é animador, mas o cenário ainda preocupa. Quase 10% dos brasileiros ainda fumam, alheios às trágicas estatísticas: maior causa de mortes evitáveis no mundo, o tabagismo provoca a perda de 438 vidas por dia no Brasil, além de um gasto de R$ 56,9 bilhões com despesas médicas e perda de produtividade laboral. É preciso, portanto, reduzir ainda mais a taxa de fumantes.

Para isso, devemos entender o que, mesmo diante de argumentos tão assustadores, leva às primeiras baforadas. Parte da resposta se encontra num processo mental presente em todos nós: a negação. Diante de situações desafiadoras ou problemas complexos, tendemos a negar sua existência, ou a crer em soluções quase mágicas. O comportamento irresponsável de muitos em relação ao coronavírus é um bom exemplo.

O mesmo acontece com o cigarro. Acreditar que seus efeitos só atingem os outros, ou não são muito graves, é mais simples e emocionalmente confortável do que encarar a dura realidade: ele pode nos levar à morte ou a doenças graves. Assim, vemos nossos jovens, movidos pela curiosidade ou pela busca de afirmação pessoal, permitindo que o fumo entre em suas vidas, com conseqüências frequentemente fatais.

Somos capazes de romper esse ciclo, combatendo a negação com as únicas armas possíveis: informação e convencimento. Campanhas de prevenção já mostraram sua eficiência, e podem ser intensificadas. Nós, cidadãos em geral, devemos abandonar a postura complacente diante do uso precoce ou da venda de cigarros para menores.

Neste mês em que a OMS pede ao mundo um Dia sem Tabaco, é hora de encarar o fumo em sua real dimensão: um grave problema de saúde pública. Admitir sua existência é o primeiro passo para solucioná-lo.

 

*Grande Benfeitor da Academia Nacional de Medicina e professor de Psiquiatria da PUC-Rio