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A revolução da longevidade e o desafio das empresas em um mercado 50+

Por Francisco Guarisa*

O aumento da expectativa de vida da população mundial, especialmente no Brasil, traz à luz um tema que considero fundamental para qualquer reflexão sobre o segmento 50+, denominado por alguns como “melhor idade”: o reposicionamento da maturidade no mercado de trabalho. São pessoas que, independentemente de classe social e dificuldades econômico-financeiras, desejam essencialmente uma vida feliz e mostram serem capazes de fazer suas escolhas. Cada vez mais buscam seu reconhecimento como população ativa, procuram se inserir em conceitos ligados à modernidade e, de alguma forma, estarem conectadas.

Dados recentes do IBGE mostram uma forte tendência do envelhecimento da população em um horizonte de 30 anos. Até 2060, a projeção é de que uma em cada quatro pessoas será idosa. Além disso, a estimativa é de que já em 2030 o país terá mais idosos do que crianças, tanto pelo aumento da expectativa de vida, como em função da redução gradativa da taxa de fecundidade. Como empresas, governos e sociedade em geral lidarão com esses novos tempos?

Apesar de atualmente existir um movimento de mudanças, a discriminação etária ainda é uma realidade no universo empresarial. O segmento ainda sofre com preconceitos ligados à incapacidade física, desatualização tecnológica e conservadorismo, especialmente quando falamos em oportunidades profissionais. A experiência adquirida ao longo de décadas, na hora de uma contratação, tende também a ser percebida pelas empresas como algo caro. Talvez, valha a reflexão sobre o valor de uma experiência de vida e de trabalho, principalmente quando nos vemos diante de situações de estresse, com exigências e cobranças de curto prazo por resultados. Nestas horas, o equilíbrio e a inteligência emocional adquirida ao longo de anos podem ser fundamentais para a resolução de problemas e o atingimento de objetivos e metas, especialmente envolvendo os trabalhos em equipe.

Se por um lado vemos o crescimento de empresas desenvolvendo produtos e serviços para atender a esta nova demanda, a mesma velocidade não é percebida para a absorção dessa mão de obra “madura”, conforme citado. Aliando a isso, existe uma lentidão das instituições públicas em lidar com regulamentações e/ou questões importantes sobre saúde, trabalho, assistência social, meios de transportes, entre outras. No meu entendimento, isso passa pela necessidade de uma revisão frequente tanto da Política Nacional do Idoso, como também do Estatuto do Idoso.

O fato é que, se não houver uma quebra desse paradigma e as empresas não lançarem um novo olhar sobre a inclusão de pessoas 50+, enfrentaremos sérios problemas em um horizonte não muito distante. Empresas precisarão integrar essa realidade às suas estratégias ou verificaremos uma dificuldade na adequação da mão de obra para o mercado de trabalho, onde os anos de experiência começarão a fazer a diferença. É importante destacar também que, com o fato do envelhecimento da população, o problema não se dará somente no reposicionamento da maturidade no mercado de trabalho, mas também na revisão das estratégias de mercado. Os consumidores serão também mais velhos, com isso as empresas precisarão criar equipes mais multietárias e multidisciplinares, como forma de minimizar riscos, atender essa nova demanda e garantir sua sustentabilidade.

Por fim, um longo caminho precisa ser seguido e diversos obstáculos superados. Empresas precisarão criar estratégias eficientes e eficazes de inclusão e promoção da diversidade etária, com um total comprometimento de suas lideranças em um processo contínuo. Aquelas que entenderem e se ajustarem rapidamente, de acordo com pesquisa recente da McKinsey & Company, reforçarão seu vínculo com a diversidade, melhorarão sua performance financeira e obterão uma vantagem competitiva sustentável.

Mais do que nunca, ressignificar é a palavra de ordem. Até porque, não custa lembrar que criatividade, imaginação, ousadia e capacidade de inovar são atributos que não estão diretamente relacionados à idade. A revolução da longevidade está diante de nós, os desafios são enormes e o trabalho intenso, mas não menos prazeroso. E eu sinto uma extrema felicidade em fazer parte dela.

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão

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