E quando acabar a vacinação?

Por Rodrigo Bethlem*

A hora que acabar a vacinação teremos um estoque muito grande de pessoas que deixaram de ser atendidas nos hospitais públicos.

Vou me antecipar e fazer um alerta porque eu não estou vendo ninguém falar disso e é algo que preocupa muito.

Ao longo de todos esses meses é óbvio que a vacinação da população e a internação das pessoas que tiveram complicações da covid-19 deveriam ser prioridade dos governos.

Porém, na prática, o que ocorreu foi a retirada de leitos do atendimento diário para cirurgias eletivas, que foram transformados em leitos de covid. Podemos definir essa estratégia como “descobriam um santo para cobrir o outro”. Ou ainda, escolheram a solução do cobertor curto: puxaram para aquecer os pés e a cabeça ficou de fora e vice-versa.

Enfim, a conclusão desse cenário é clara: o secretário de Saúde do município do Rio de Janeiro mentia quando dizia que estava abrindo novos leitos. Na verdade, ele estava trocando as plaquinhas.

Explico: o senhor secretário tirava vagas de leitos de ortopedia, por exemplo, e transformava em leito covid. Essa foi a fórmula mágica que ele encontrou para anunciar que os hospitais da cidade tinham como receber as pessoas que precisavam de internação, nos casos graves da doença.

Agora eu quero ver quando acabar esse período crítico da pandemia. Se Deus quiser, em agosto ou setembro já teremos praticamente uma imunização de rebanho, com mais de 70% da população vacinada.

Nesse momento, como será a saída? Pois vamos ter um estoque de pessoas aguardando cirurgias ortopédicas, de hérnias, enfim, de todos os tipos, e a Saúde não vai dar conta disso. Será uma quantidade muito grande de pessoas em filas que vão demorar dois, três anos para serem reduzidas.

Para tentar minimizar esse futuro colapso, é muito importante, desde já, haver um planejamento, principalmente das secretarias de Saúde dos municípios, que acabam recebendo essa primeira demanda de emergência. Caso contrário, vamos ter um problema de saúde seríssimo.

As pessoas vão adoecer e algumas vão acabar morrendo por causa dessa estratégia de desviar leitos. A realidade é que muita gente deixou de ser tratada porque as vagas que eram destinadas a outras doenças, na rotina dos hospitais, para atendimentos ao cidadão, foram transformadas em leito de covid.

*Ex-deputado e consultor político