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A cegueira e a ignorância

Por Aristóteles Drummond*

As manifestações significativas de apoio que o presidente Bolsonaro vem recebendo, estimuladas e agendadas por ele mesmo, demonstram uma postura distante da realidade das eleições em país onde prevalece os dois turnos. Fosse minimamente articulado em política, estaria mais empenhado em passar a necessidade do segundo turno da obtenção da metade mais um dos votos válidos para um percentual menor, como ocorre na Argentina, por exemplo, do que neste discurso do voto impresso.

A Argentina estabelece que com 45% dos votos não precisa de segundo turno. E entre 40% e 45%, mas com dez de vantagem sobre o segundo, também. Mais democrático e, parece, melhor para ele, que tem uma cota fixa de votos.

O presidente parece esquecido de que foi eleito com 57 milhões de votos e que seus mesmos foram poucos. Seus grandes eleitores foram Lula; o opositor, Haddad, radical marxista, péssimo prefeito de São Paulo; e os escândalos do assalto petista aos cofres públicos, o que foi admitido em veemente discurso pelo seu aliado FHC.

O futuro do presidente e de seu grupo político não está nas manifestações que possam reunir alguns milhões de seguidores. Está na vacinação, na dedicação a governar e não a provocar atritos de toda ordem e a todo momento. Tem pontos positivos, sem dúvida. Sem perigo de engano, podemos avaliar bem seus desemprenho na agricultura, base de nossas exportações, e na infraestrutura, único setor que avançou nas parcerias público-privadas, por exemplo. Imprudente e até mesmo desonesto jogar o brasileiro mais pensante no “voto útil”, pois realmente a oposição não desperta confiança a sociedade e a terceira via ainda uma hipótese.

Na economia, a tentação demagógica o levou a anular o discurso liberal e desmoralizar o economista que teve a ventura de aceitar o desafio, para se revelar agarrado ao cargo. Se foi ministro para construir uma biografia de cidadão, acabou ficando como um oportunista tipo topa tudo pelo cargo. Esta de tirar o pedágio dos motociclistas parece coisa do Odorico Paraguaçu.

A parcela da sociedade – empresários, profissionais liberais, lideranças trabalhistas pragmáticas – sonha com um novo comportamento do presidente, pois é melhor com ele do que sem ele. Mas ele e seus próximos precisam ajudar. Como está, não é mais possível sustentar, para ficar no respeito que o cargo merece, tanta tosquice.

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