Empatia e pensamento sistêmico: uma combinação ideal para novos líderes

Francisco Guarisa*

Os acontecimentos globais dos últimos anos, tendo como destaque uma pandemia avassaladora, geraram uma série de reflexões sobre o mundo que queremos daqui por diante – ou, até mesmo, o mundo que precisaremos ter. Em artigos recentes, destaquei alguns estudos que mostram o sentimento da sociedade em relação às novas formas de liderança e revisões de posturas por parte das organizações públicas e privadas.

Um estudo, também recente, da consultoria internacional Spencer Stuart ressalta que, para esta nova era que se inicia, os líderes de marketing precisarão ser mais colaborativos, proativos para eliminar ruídos de comunicação, autênticos e inclusivos. Porém, tais características não se aplicam somente para a área de marketing. O texto destaca ainda a necessidade de uma postura com visão mais sistêmica da vida, mais humana e altruísta, capaz de inspirar pessoas, de compartilhar experiências e exercitar permanentemente a empatia. E esse comportamento refletirá diretamente na sustentabilidade dos negócios.

Mas, por que essa necessidade de exercer uma liderança empática e ter uma visão sistêmica da vida? Primeiro, porque empatia ajuda a compreender melhor o comportamento das pessoas em diversas situações e suas tomadas de decisões, especialmente pelo fato de conseguirmos nos colocar no lugar do outro. Ela vem do grego “empatheia”, que significa “paixão” e pressupõe que se estabeleça uma comunicação mais afetiva entre as pessoas. Sua importância ganha cada vez mais força, principalmente pela complexidade que hoje se estabeleceu nas relações humanas, seja em nível pessoal ou profissional. Além disso, profissionalmente a empatia contribui para o desenvolvimento de uma competência sistêmica e auxilia na construção de líderes mais compreensivos, criativos, inovadores e colaborativos.

Segundo, porque um pensamento sistêmico, tende a ser imprescindível para lidarmos com os problemas atuais e futuros. Não podemos mais olhar isoladamente para questões ambientais, sociais, políticas e/ou econômicas. Temas emergentes como mudanças climáticas, depredação do meio ambiente, fome, crise de energia, desigualdade social, entre outros, estão interligados e, de alguma forma, possuem uma interdependência. Se continuarmos olhando individualmente cada problema, as soluções serão sempre pontuais. De acordo com o físico Fritjof Capra, em seu livro “A Visão Sistêmica da Vida”, necessitamos ter um novo olhar sobre a vida, com uma concepção mais integradora sobre as quatro dimensões: biológica, cognitiva, social e ecológica. Ele destaca que precisamos deixar de ver o mundo como uma máquina e passar a compreendê-lo como uma grande rede, uma trama totalmente interligada e com a devida resiliência para sabermos lidar com seus padrões e relacionamentos.

Essa nova liderança, ao entender a importância da empatia e de um pensamento sistêmico, terá uma enorme clareza dos propósitos de sua organização e saberá disseminá-los, de maneira que todas as partes interessadas ao negócio saibam como interagir entre si e se adaptem às mudanças necessárias.

Desta forma, ela será capaz de identificar assertivamente novas oportunidades, tendo mais segurança e força para lidar com as incertezas e eventuais adversidades. Um ambiente transformador, onde todos estarão motivados a ousar e abertos para se surpreenderem com ideias inovadoras.

Partindo da premissa de que uma ação impacta no desempenho de todos os outros, precisamos expandir nossos horizontes e termos este olhar mais sistêmico sobre a vida, para que este novo ambiente transformador nos surpreenda e gere impactos acima do esperado. Assim, poderemos enxergar além do tradicional e perceber que o todo pode ser muito maior do que a soma das partes. Não custa tentar.

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão