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Alerta contra as hepatites

Por Jorge Jaber*

Com todos os olhos voltados para o novo coronavírus, é natural que a atenção a outros problemas de saúde se disperse. Exames de rotina são desmarcados, a prática de esportes é abandonada, o consumo de bebida alcoólica aumenta...a prevenção, enfim, é deixada de lado. Os resultados podem ser desastrosos: as outras doenças, algumas tão ou mais letais do que a própria Covid-19, continuam entre nós, agindo muitas vezes silenciosamente, à sombra do descuido e da desinformação. É o caso das hepatites virais, que, entre 1999 e 2019, atingiram cerca de 675 mil brasileiros, com mais de 75 mil vítimas fatais. Reduzir essa triste estatística é o objetivo do Julho Amarelo.

As hepatites são inflamações no fígado, que podem ser provocadas pelo contato direto com o vírus, o que reforça a necessidade da higiene pessoal como forma de evitá-las. Cansaço, febre, mal-estar, tontura, vômitos, dor abdominal e pele e olhos amarelados, entre outros, são sintomas comuns. Nem sempre, porém, o fígado registra o golpe: há muitos casos assintomáticos, o que dificulta o diagnóstico e impede o tratamento. Por isso, exames periódicos, disponíveis na rede pública de saúde, são fundamentais.

Não tratada a tempo, a doença abala o fígado e prejudica seu desempenho, levando até à cirrose ou câncer. O uso abusivo de remédios, álcool e outras substâncias agrava o quadro: o órgão se desgasta, como um pneu consumido pelo asfalto, e estas drogas aceleram o processo de degradação. Controlar seu consumo, portanto, é outra medida preventiva, além da própria vacina, no caso dos tipos A e B da doença.

As hepatites, portanto, são evitáveis, e, mesmo que se manifestem, têm tratamento, inclusive com um transplante. Isso nos leva a outro ponto: a falta de doadores. Em 2018, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, 5.192 pacientes esperavam por um fígado, mas apenas 2.182 foram atendidas. É importante lembrar que há doações em vida, ou seja, todos nós, atendidos os requisitos médicos, podemos ser doadores, exercendo a solidariedade que estes tempos de pandemia despertaram.

*Grande Benfeitor da Academia Nacional de Medicina e professor de Psiquiatria da PUC-Rio

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