Big Data Turístico é o único caminho para o protagonismo sustentável do setor

Francisco Guarisa*

Há cinco anos escrevi um artigo sobre as mudanças nas relações de consumo dentro da atividade turística, tendo como destaque a tecnologia, que permitiu um acesso rápido à informação e facilitou a interação no processo de decisão de compra. De acordo com uma pesquisa atualizada da ABI Research, empresa americana especializada em tecnologia, até 2026 o mundo terá algo em torno de 23 bilhões de conexões, envolvendo um mix de processos, dados e coisas, gerando bilhões de conexões e/ou informações relevantes.

No turismo, os consumidores estão cada vez mais conectados, interagindo com empresas e outros consumidores na pesquisa ou compra de produtos e serviços dentro da cadeia produtiva. Uma “caminhada interativa” que permite também, em tempo real, o compartilhamento de experiências e informações relevantes. Algumas empresas do setor entenderam esta nova realidade e começaram a utilizar em suas estratégias uma inteligência de marketing para gerar oportunidades de negócios mais adequadas aos desejos e demandas do mercado. Porém, será que estas atitudes isoladas serão suficientes para darmos à atividade turística o seu real valor e protagonismo no desenvolvimento socioeconômico do país? Certamente que não.

Precisamos unir esforços em torno da criação de uma inteligência turística, integrada, dinâmica e colaborativa, que permita a produção de informações estratégicas e se traduza em oportunidades de negócios efetivos e mensuráveis para toda a cadeia produtiva do segmento. A complexidade alcançada pelo negócio do turismo exige um investimento brutal em pesquisa para entendermos os movimentos atuais e futuros em relação às viagens, especialmente em momentos de turbulência, como os vividos atualmente. Será que sabemos qualitativamente quem é o turista que vem ao Brasil, seus interesses, desejos e expectativas em relação ao país? Será que estamos divulgando corretamente o país no exterior? Até mesmo, quais as melhores estratégias para atender às expectativas de um novo turismo de proximidade que surge pós-pandemia?

Independentemente de situação política e/ou econômica e de problemas estruturais em alguns segmentos de sua cadeia produtiva, já é passada a hora do setor ter um grande Big Data Turístico. Uma central de inteligência independente, multidisciplinar, suprapartidária, contendo informações estratégicas, tendo como parceiras as principais instituições públicas e privadas do segmento.

Uma instituição responsável por analisar e, de forma frequente e objetiva, partilhar informações, resultados qualitativos/quantitativos e cenários em prol do crescimento sustentado do turismo nacional. Não dá mais para esperarmos dados isolados, produzidos e divulgados porinstituições públicas ou privadas, com estatísticas que dependam de processos muitas vezes caros, demorados e operacionalmente complexos. A competição é em tempo real.

Enquanto, por exemplo, em países como Portugal a atividade turística teve um papel preponderante na sua recuperação econômica e produziu uma alta contribuição para o PIB até 2019 (acima de 15%), vemos o Brasil, apesar de seu incrível potencial turístico, amargar números que até 2019 não passaram de 8,8% do PIB. Uma lástima para um país que possui uma enorme diversidade cultural e histórica, belezas naturais incomparáveis e boa infraestrutura, que geram oportunidades únicas de experiências voltadas ao turismo de lazer, de negócios, de saúde, MICE, entre tantos outros. É triste constatarmos que um país com todo o nosso potencial recebe anualmente menos turistas do que o Museu do Louvre.

A Espanha também é um ótimo exemplo, pois há mais de uma década trabalha com Big Data para pensar campanhas turísticas com ofertas especiais e melhorias de infraestrutura, desenvolvidas a partir da transformação digital dos turistas e de suas interações nas redes sociais.

Com o auxílio de um Big Data Turístico atuante, poderemos ampliar a visão econômica do turismo e entendermos também sua contribuição social, tanto na possibilidade de capacitação de jovens em todas as regiões do país, como na geração de novos negócios e diversificação de produtos e serviços. O crescimento da circulação de renda não deve ser a causa, mas sim o resultado de um grande processo de investimento da atividade econômica no setor e, consequentemente, de melhoria na qualidade de vida da população.

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão