O gosto de cada um

Por Ernesto Ventura*

Quem não conhece a expressão “gosto não se discute”? Pois é, eu, particularmente, penso que gosto se discute sim e, como arquiteto, acredito que quanto mais discutido, melhor. Não se trata aqui de impor um padrão estético, mas exatamente de tentar identificar que gosto é esse e o quanto ele é presente na vida, no modelo e no estilo do cliente.

Os processos de interação do arquiteto com seu cliente são sempre muito complexos, e a identificação da estética pessoal é um dos mais desafiadores, por significar uma tentativa de extração e purificação dos valores e referências que permeiam a formação daquela pessoa, quando se trata da singularidade ou não de seus gostos pessoais.

Não é incomum que alguém declare como sendo o seu gosto, algo que é apenas uma referência de momento em um determinado grupo social, um modismo, o famoso “está se usando muito”, e lá vai a pessoa adotando aquele valor ou referência como sendo sua.

Não acredito que devamos fazer juízo de valor sobre os gostos de pessoas, em particular, de nossos clientes. Ao trabalhar em um projeto, o importante é compreender o que de fato é importante no universo de referências daquela pessoa e, junto com ela, buscar a melhor forma de incorporar ao ambiente ou construção projetados, os elementos por ela trazidos, integrando-os de forma harmônica e compatível com o conjunto da obra.

Considero de grande importância buscar livrar o cliente da armadilha de se deixar levar pela “moda”, sob o risco de torná-lo refém de valores e referências que não são seus e ainda fazê-lo pagar caro por eles. Isso pode condená-lo a viver, por longos períodos, com algo que acabará por desagradá-lo ou incomodá-lo, pela ausência de uma genuína identificação entre a pessoa e os objetos, arranjos, materiais, cores e texturas escolhidos para integrar o projeto. Resultado: uma permanente sensação de desconforto que nem sempre se consegue perceber a origem.

Atender ao gosto do cliente é principalmente compreendê-lo e a seus desejos e sonhos, buscando, dentro do possível, e através da boa técnica e da adequada abordagem, harmonizar todos os elementos que irão compor o projeto. Assim, se proporciona à pessoa que irá habitar/utilizar aquele espaço/edificação, a sua plena satisfação e conforto, pelo maior tempo e pela melhor relação custo/benefício possível.

Arquiteto e Urbanista*