Atenção: um desafio em tempos escassos

Francisco Guarisa*

Há tempos vemos organizações disputando espaço na mente das pessoas, com o objetivo de conquistarem a tão sonhada relevância e uma diferenciação única em relação à concorrência. Uma tarefa árdua, pois o consumidor está cada vez mais exigente e consciente de sua força e sua responsabilidade perante as demandas sociais e ambientais que o mundo apresenta. Um desafio enorme, potencializado pela evolução tecnológica e a internet, onde a todo instante esse consumidor é impactado de múltiplas formas e variedades de informação.

Através de dispositivos, como celulares, computadores ou tablets, recebemos conteúdos e tomamos decisões, que inegavelmente facilitam o nosso dia a dia. Além disso, redes sociais, streamings de áudio/vídeo e jogos digitais começaram a assumir um protagonismo nesse ecossistema de consumo, que tem dificultado cada vez mais nas estratégias de atuação das empresas no mercado. Neste contexto, a gestão da informação ganha um novo ativo estratégico a ser trabalhado, como contribuição à sustentabilidade de empresas e marcas: a nossa atenção.

Atenção tem correlação direta com gestão do tempo. Sabe-se que o tempo é um recurso escasso, não renovável e podemos gerenciá-lo de acordo com nossos interesses. Por exemplo, podemos destinar um determinado tempo para assistir a um filme em um dos diversos serviços de streamings disponíveis no mercado.

Porém, o que garante que ele terá a nossa atenção durante todo o período? Uma simples notificação de mensagem pode colocar tudo a perder. Aí é que está o grande desafio, focado na necessidade de conquistar a atenção do consumidor de maneira eficiente e relevante, em meio a essa abundância de informações disponíveis, que o mercado tem classificado como “economia da atenção”.

Atualmente, as redes sociais, tendem a dominar esse novo universo, pelo simples fato delas, consciente ou inconscientemente, conseguirem captar e monetizar nossa atenção. Quem nunca, ao buscar simplesmente uma informação que precisava no celular, como um número de telefone importante, se viu perdido no tempo dentro das redes sociais e percebeu que o número de telefone caiu no esquecimento? Ou precisava enviar uma mensagem, que se perdeu após a leitura de tantas outras que entraram instantaneamente?

Não se enganem na simplicidade de troca de informações dessas ferramentas. Por detrás, existe um grande estudo psicológico, biológico e sociológico, para que nossa mente esteja permanentemente motivada a tomar atitudes que contribuam na manutenção da atenção. São diversos estímulos relacionados à imagem, som e linguagem, entre vários, que contribuem para permanecermos indefinidamente nessas ferramentas. Sem falar nos dados coletados em nossas navegações e interações, onde as empresas conseguem identificar boa parte de nossas preferências e hábitos de consumo. Aliás, espero que até aqui a sua atenção não tenha sido desviada.

Diante deste cenário, não existe espaço para vencedores ou perdedores. Marcas e consumidores estão em uma via de mão dupla, onde interação, através de diálogo permanente e troca de experiências, são (e serão) indispensáveis. No meu entendimento, o desafio está em todas as partes encontrarem o equilíbrio. É fato que hoje, de forma tangível ou intangível, existe uma monetização dessa economia baseada na atenção. Se empresas conseguirem enxergar que é possível estabelecer uma relação de consumo mais consciente, olhando o consumidor de forma mais humana, respeitando suas limitações e não apenas como uma oportunidade financeira, certamente o tempo e a atenção assumirão outra dimensão de valor.

Não custa lembrar que o mundo carece de atenção e o tempo está se esgotando. Que nesta economia todas as partes interessadas possam enxergar e negociar soluções de forma mais justa e responsável.

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão