O isolamento do golpe

Sergio Batalha Mendes*

Semana passada foi publicado em vários jornais brasileiros um manifesto assinado por mais de 200 personalidades do mundo empresarial e da sociedade civil em geral em defesa do sistema eleitoral brasileiro. O interessante é que entre os signatários havia uma expressiva maioria de nomes desvinculados da esquerda. São empresários do setor industrial e financeiro, personalidades da sociedade civil, economistas e intelectuais ligados tradicionalmente ao conservadorismo neoliberal brasileiro.

Na mesma semana também houve a formação de um consenso no Judiciário contra as ameaças de Bolsonaro às eleições do ano que vem, incluindo sua inclusão no inquérito do STF sobre as fakenews. É uma subida de tom e uma ameaça, ainda que distante, de uma possível inelegibilidade em 2022.

Embora Bolsonaro tenha mantido o tom do confronto, com novas ameaças de golpe, o seu isolamento é cada vez maior.

O próprio Centrão está tornando claro que o seu apoio se limita ao bloqueio do impeachment e à aprovação de pautas do governo que também lhe interessem. Ciro Nogueira vem insistindo em um discurso apaziguador que, se não tem qualquer efeito sobre Bolsonaro, ao menos deixa evidentes os limites de sua adesão ao governo.

Entre os militares o movimento parece ser mais defensivo do que favorável ao golpe. Em meio a crescentes denúncias de corrupção envolvendo oficiais da ativa no governo, a cúpula dos militares emitiu a nota contra a CPI para tentar frear o linchamento público da categoria, mas não endossou o movimento de Bolsonaro contra o sistema eleitoral.

A conjuntura indica um isolamento não apenas de Bolsonaro, mas da própria ideia de um golpe militar para impedir a realização das eleições do ano que vem. Não há um apoio significativo para esta ideia entre políticos, empresários, sociedade civil e mesmo entre os militares.

No entanto, não há dúvidas de que Bolsonaro vai insistir com o chamamento ao golpe, utilizando o fantasma da vitória de Lula para atrair setores da direita. No caso de fracasso, seguirá o exemplo de Trump e lançará o discurso da fraude eleitoral para manter coeso o seu núcleo de apoiadores.

Cabe hoje aos democratas, e não apenas aos apoiadores de Lula, denunciar antecipadamente esta manobra e recusar qualquer debate sobre a segurança da urna eletrônica. O choro dos fascistas derrotados deve ser feito no lugar próprio: a lata de lixo da História.

 

*Advogado