Por:

Passado, presente e futuro em tempos de incertezas

Francisco Guarisa*

Há momentos na vida em que pensamos no futuro como uma forma de minimizarmos a tensão ocasionada pelo presente incerto. Tal decisão gera, momentaneamente, uma sensação de conforto e uma certa esperança na concretização de um desejo idealizado. O problema é quando não conseguimos lidar com o presente e nos concentramos excessivamente no futuro. Não é que não podemos pensar no futuro, nem sonhar acordado, mas esse exagero pode gerar um sentimento de insegurança, preocupação e medo, dificultando em diversas reflexões e na tomada de decisões que precisamos ter diariamente.

Uma outra situação, não menos comum, se dá quando ficamos presos ao passado, dificultando o entendimento do presente e suas implicações. Não há como negar que o passado pode servir de exemplo e, em certa medida, de aprendizado para gerenciarmos situações presentes, observando seus erros e acertos. Porém, ao se tornar também excessiva, essa “prisão” ao passado tende a nos levar a um estado de angústia. E aí ficamos reféns, em qualquer extremo, dos dois principais males existenciais desses novos tempos: depressão e ansiedade. E são esses extremos que têm dificultado a sociedade em lidar com as adversidades atuais, para encontrar soluções mais consensuais, objetivando um futuro equilibrado, próspero e sustentável.

O fato é que precisamos rever a forma com que nos relacionamos com o presente, seja em um contexto político, social e/ou empresarial. Tenho por hábito falar que o mal do mundo não é o fato, mas a forma com que lidamos com ele. Atualmente, convivemos com uma situação em que a sociedade está com enorme dificuldade de encontrar uma forma adequada para lidar com os seus problemas. Aceitar o contraditório e respeitar a diversidade têm sido uma dificuldade para quem no presente está preso ao passado, assim como se torna difícil respeitar a história e suas diversas facetas (positivas ou adversas) para quem se concentra somente no futuro.

Temos uma habilidade incrível de enxergar o futuro, antecipar situações e planejar ações que tragam soluções para um tempo presente. Uma habilidade que não seria possível se não tivéssemos um atributo único de retenção na memória de múltiplas momentos vividos (passado). Ou seja, o passado cumpre uma importância enorme como um espelho do futuro, pelo fato de que cada indivíduo é capaz de identificar em suas atitudes passadas reflexos e percepções para seu futuro, permitindo embasar suas decisões presentes.

Se temos toda essa capacidade, por que então essa dificuldade em lidar com as situações presentes deixando de lado, por exemplo, os desejos pessoais em prol da coletividade e de um bem maior? Talvez porque tenhamos uma tendência egoísta de querer estar permanentemente no controle, sermos protagonistas e, infelizmente (ou felizmente), o presente possui sempre algumas variáveis incontroláveis. Consequentemente, passamos a recorrer com frequência ao passado ou ao futuro, como forma de defesa ou pseudo fortalecimento, tirando o foco do único tempo que, de acordo com o filósofo transformado em santo, Agostinho de Hipona, realmente possuímos: o presente.

Assumir o presente, superar as adversidades, respeitar o próximo sem barreiras é um grande desafio. Podemos ser coletivamente os agentes de muitas mudanças, se nos libertarmos das amarras do passado e não nos escondermos nas incertezas do futuro. Ao longo da história, aprendemos a viver em comunidade, seja através de grupos de interesse, tribos, povos, cidades e/ou países. Além disso, possuímos hoje um conjunto de ferramentas tecnológicas, que nos permite uma aproximação única, congraçamento e coexistência em tempo real. Como já citei em outro artigo, estamos diante de um universo dinâmico e plural, seja on ou offline, onde buscar o diálogo e o consenso será mais fácil do que ficar preso a preconceitos que não se coadunam mais com essa nova realidade.

Toda a sociedade – governos, políticos, empresas, entidades de classe, comunidades – precisa parar e refletir sobre seus atos, deixar de lado seus interesses pessoais, seus projetos de poder, seus escudos dogmáticos, suas crenças arraigadas no passado e respeitar mais a vida e ao próximo, de forma ampla, geral e irrestrita (olhem um fragmento do passado vindo à tona). No fim, a busca será sempre por um bem comum: essa tal de felicidade. Se ela é plena ou se é um conjunto sucessivo de momentos felizes que nos dão essa sensação plena, quem sabe. E nessa busca, não custa nada ajustar proativamente o presente, preservando as boas memórias do passado e preparando o terreno para viver a boa vida no futuro, até porque o futuro é agora.

 

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.