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O enigma da esfinge eleitoral

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A lógica eleitoral é o enigma da esfinge. Ou você decifra ou é devorado. Depois de 16 anos à frente do governo da Alemanha, Angela Merkel deixa o comando da maior economia europeia com mais de 70% de aprovação popular. As eleições de sucessão apontam que será uma disputa acirrada Seu eleitorado apresenta dificuldade de ser transferido para seu sucessor, ou seja, não há possibilidade de transferir votos para seu candidato. A personalização não garante a fidelidade do eleitorado. Também foi assim com os britânicos. Aclamado como pai da nação e responsável pela vitória da Inglaterra na Segunda Guerra mundial, Winston Churchill perdeu para os Trabalhistas.

No Brasil, temos o caso de Getúlio Vargas. Voltou ao governo na década de 1950 pelo voto popular, depois de ter sido execrado como caudilho nos anos 1930 e 1940. Saiu do Catete em um ataúde, depois de desferir um tiro no próprio peito. Saiu da vida para entrar na história.

O caso de Merkel é curioso. Viveu na Alemanha Oriental, onde se formou em física, e é a mulher mais forte do planeta. Encarnou o papel de mãe de todos os alemães.

Uma verdadeira estadista. Considerada uma das maiores líderes do mundo, Merkel demonstrou ter um perfil moderado e de equilíbrio, incorporando demandas dos mais diversos setores da população alemã, sendo capaz de construir uma grande coligação que conseguiu enfrentar diversas crises durante sua liderança, como: a desvalorização do euro, a crise migratória, o Brexit e a pandemia da covid-19. Composição e diálogo são a marca de 16 anos de sua trajetória que permitiram superar com alta taxa de aprovação momentos de crise. Seu legado entra para história de seu país.

Fazendo um paralelo com o nosso Brasil, quando o assunto é estadista o panorama é precário. A maturidade de estadistas apresentados até os dias atuais é de nível pobre para um país com dimensões continentais. Vivemos hoje o fenômeno Jair Bolsonaro. A sua comunicação com o eleitor é única. Enfrenta a artilharia pesada de seus oponentes, mas mantém uma base sólida capaz de uma rara fidelidade política. Mas é uma base que na última eleição não correspondeu à transferência de votos para os candidatos bolsonaristas, como havia ocorrido em 2018.

É, porém, uma base fiel, que garante a sua presença no segundo turno da disputa de 2022. Hoje, com internet e redes sociais, o eleitor é diferente. Quem não souber decifrar esses enigmas será devorado pelas urnas.

*Advogado e adesguiano

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