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A pauta dos absorventes

Por Rodrigo Bethlem*

A polêmica da vez aqui no Brasil é sobre a distribuição gratuita de absorventes íntimos para adolescentes e mulheres pobres. A discussão se acalorou depois que o presidente Jair Bolsonaro vetou a previsão de distribuição gratuita de absorventes femininos para estudantes de baixa renda e pessoas em situação de rua. A sanção foi publicada na edição de quinta-feira (7) do Diário Oficial da União.

Um dos pontos de partida desse tema foi o levantamento divulgado este ano intitulado “Impacto da pobreza menstrual no Brasil”, encomendado pela marca Always, que aponta que o fato de não ter condições de comprar absorvente faz com que meninas percam 45 dias de aula por ano letivo.

Muito bem, vamos pontuar algumas coisas.

Essa pesquisa, que serviu de base para essa narrativa, foi produzida pela Always, que é fabricante de absorventes. Pois é, estudo pago por uma empresa que ganha milhões com o item em discussão.

Caro leitor, você pode questionar: não é importante distribuir absorventes para pessoas que não tem dinheiro para comprar? Sim, é claro que é importante, assim como é necessário dar botijão de gás, nesse momento, para as pessoas mais pobres que estão sem condições de cozinhar. Também acho importante dar comida porque tem muita gente que não está tendo o que comer.

Mas vou contar um segredinho para vocês: não há nada de graça. Parlamentares que ficam aprovando projeto na Câmara dizendo “vamos dar de graça” estão mentindo. Nós pagamos por tudo isso que o governo faz.

Mais uma ponderação importante: pergunta para esses deputados se eles abriram mão dos seus salários ou, pelo menos, de parte das suas verbas de gabinete para financiar o programa.

Gente, precisa ter dinheiro para fazer as coisas. Quem vai bancar isso? O governo não produz dinheiro. Tudo que ele faz é pago com o que recolhe dos nossos impostos. Pode até ter gente que acha que não paga tributos, mas paga porque estão embutidos nos preços dos produtos.

E como não existe nada sem pagar, é necessário estabelecer prioridades.

Na atual situação do país, seria muito mais importante ter um programa subsidiando o preço do gás para que as pessoas não morram de fome!

Querem dar absorvente de graça? Muito bem, nobres deputados, então, comecem diminuindo os custos da Câmara e do judiciário. Com certeza, vai sobrar dinheiro para fazer esse e muitos outros programas.

É isso que tem que ser feito. O resto é conversa pra boi dormir.

*Ex-deputado e consultor político

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