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Será que o agro é realmente nosso?

 Por Wagner Victer*

No último dia 16 de outubro foi comemorado o “Dia Internacional da Alimentação” e essa efeméride merece importantes reflexões especialmente para o nosso país.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), existem 50 milhões de pessoas no Brasil que não tem certeza se poderão fazer a sua próxima refeição e passam por insegurança alimentar moderada ou grave.

Na mesma linha, o número de pessoas que passam fome quase dobrou nos últimos 2 anos, saindo de 10,3 milhões em 2018 para 19,1 milhões em 2021, segundo fontes da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania, Segurança Alimentar e Nutricional.

Segundo Rafael Zavala, representante da FAO no Brasil, o diagnóstico é muito claro. A redução da renda familiar, ocasionada por diversas funções ou aumento dos preços dos alimentos está contribuindo para esse cenário catastrófico, em especial no contraste com um país que era considerado o “celeiro do mundo”.

Para compensar isso, muitos projetos sociais, conduzidos por voluntários, têm atuado junto à populações mais vulneráveis em projetos de distribuição de quentinhas e cestas básicas, o que não resolve o problema estrutural, mas, de maneira extremamente importante, mitiga a fome de milhares de brasileiros. Relembrando Betinho na célebre frase: “quem tem fome tem pressa”. Diante disso, deixo aqui uma reflexão: O Brasil é um país produtor de alimentos ou produtor de Commodities? Vale a pena desonerar completamente a exportação de alimentos para o Agro enquanto os preços aqui aumentam, se dolarizam e até se corre o risco de desabastecer? É isso que queremos como país? Temos recordes de produção, melhoria de produtividade e sem geração de empregos pela contínua automatização do campo enquanto preços aumentam no Mercado interno.

Essa certamente será a grande reflexão política, econômica e social do pós Covid em função da crise que vivemos, devendo ser o tema amplamente debatido nas próximas eleições, inclusive no tocante à eventuais estabelecimentos de cotas para a venda no mercado nacional e até a oneração tributária de parte da exportação, para que o Mercado Interno não fique desabastecido e à mercê de uma dolarização descabida.

A crise leva à loucuras liberais como essas que devem ser rediscutidas em uma visão cada vez mais ampla, pois a inflação, o desemprego e a fome nos rodeiam de forma mórbida!

*Engenheiro, Administrador, membro da Academia Brasileira de Engenharia e da Academia Brasileira de Economia

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