Bolsonaro lança minipacote anticorrupção e aproveita para criticar Moro

Por: Marianna Holanda

Em cerimônia no Planalto do Dia Internacional de Combate à Corrupção, o presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou um minipacote de medidas para transparência e criticou o ex-juiz da Lava Jato e adversário na disputa de 2022, Sergio Moro.

"Mesmo com toda a liberdade, nunca mostrou serviço [à frente do Ministério da Justiça] a não ser desde o começo do mandato fazer intrigas", disse o chefe do Executivo, sem mencioná-lo diretamente.

Nas últimas semanas, desde que Moro passou a se destacar como uma possibilidade mais viável de terceira via nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro tem criticado o ex-ministro sempre que possível.

Em entrevista na noite de quarta-feira (8), afirmou que o ex-aliado não tinha coração, gratidão, "zero", "só interesse pessoal".

Bolsonaro contou ainda, para a plateia de ministros, parlamentares e aliados, que chamou o então ministro da Justiça para prestar esclarecimentos sobre inquérito da Polícia Federal (PF) contra um parlamentar, em referência a Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), que era seu ministro do Turismo. O parlamentar era pivô do caso que ficou conhecido como "laranjal do PSL", publicado pela Folha.

O mandatário contou ter questionado seu então ministro da Justiça sobre o porquê outros deputados, em situações similares, não eram também investigados. Moro deixou o governo em abril de 2020, sob acusação de interferência na PF pelo presidente. Bolsonaro, por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), é investigado a respeito dessas declarações.

O evento em que o presidente disparou contra Moro foi a respeito do Dia Internacional da Corrupção, tema sobre o qual o Ministério da Justiça tem participação.

O governo também apresentou um minipacote com três medidas para combater o crime: projeto de lei para regulamentar o lobby, decreto para aumentar transparência de agenda pública; e outro para aprimorar a proteção ao servidor que denunciar irregularidades. O projeto de lei chega ao Congresso um ano depois de o governo ter prometido enviá-lo, no final de 2020, quando apresentou também um Plano Anticorrupção.

De acordo com o Palácio do Planalto, as medidas "visam tornar mais clara a representação privada de interesses, possibilitando, com isso, maior efetividade na repressão às condutas reprováveis". O texto ainda não foi divulgado na íntegra.

Dentre as mudanças, segundo o governo, o texto que regulamenta o lobby prevê "normas sobre audiência com lobistas, citando a obrigação de haver mais de um agente público; divulgação de agenda, inclusive em reuniões na internet; a vedação de recebimento de presentes e a regulação das hipóteses, nas quais podem ser recebidos brindes pelo agente público; e hospitalidade, este último, nos casos em que agente público viaja representando o ente público em evento de particulares.".

A discussão já é antiga no Congresso. Parlamentares alegam que, ao tornar o processo mais transparente, reduz a possibilidade de corrupção. Já o decreto sobre e-Agendas diz respeito à "divulgação da agenda de compromissos públicos e a participação de agentes públicos, no âmbito do Poder Executivo federal, em audiências e sobre a concessão de hospitalidades por agente privado".

Entretanto, este não é um hábito comum no próprio Planalto. A agenda do presidente não é divulgada na íntegra ou com detalhes, sobre, por exemplo, quem esteve presente. Muitos encontros, descobre-se que ocorreram, por publicações em redes sociais.

No segundo decreto, o governo destaca a forma de ampliar a proteção ao sigilo do denunciante e garante maior gestão da CGU (Controladoria-Geral da União) para garantir alteração do local de trabalho do denunciante, para evitar retaliações.

Neste ano, o servidor Luis Ricardo Miranda, do Ministério da Saúde, denunciou suspeitas de irregularidade e pressão para a compra e importação da vacina Covaxin.
Irmão do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), ele levou o caso acompanhado do parlamentar ao presidente Jair Bolsonaro.

Segundo o deputado, Bolsonaro perguntou se o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), estava envolvido na compra do imunizante. O presidente teria se comprometido a pedir investigação da Polícia Federal.

Bolsonaro reconheceu o encontro, mas disse que pediu ao general Eduardo Pazuello, então ministro da Saúde, apurar as suspeitas. O militar afirma que nada de irregular foi encontrado. O caso foi alvo de investigação pela CPI da Covid no Senado e da CGU. O servidor está hoje nos Estados Unidos.