Campos Neto afirma que falta de 'autonomia ampla' resulta em dificuldades para o BC

Por: Renato Machado

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, criticou nesta terça-feira (26) a falta de uma autonomia "mais ampla" para a instituição e disse que essa condição se traduz em dificuldades cotidianas para geri-la.

A declaração acontece em meio à greve de servidores do Banco Central, apenas suspensa temporariamente até o início do próximo mês para aprofundar negociações. A chamada "operação padrão" está mantida.

A decisão foi tomada depois de reunião de líderes do movimento com o presidente do BC, na segunda (18), quando Roberto Campos Neto afirmou aos representantes sindicais que o reajuste linear de 5% para todo o funcionalismo público é consenso entre os ministros e chancelado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

Campos Neto participou nesta terça-feira (26) de sessão solene do Congresso Nacional, em homenagem aos 105 anos do nascimento do economista Roberto Campos, que era avô do presidente do Banco Central.

O presidente da instituição discursava sobre o legado do avô, mencionando em particular o PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo), adotado durante o primeiro governo do período da ditadura militar. Uma das medidas era justamente a autonomia do Banco Central.

Em fevereiro do ano passado, o Congresso Nacional concluiu a tramitação de um projeto de lei que deu autonomia operacional ao Banco Central - depois sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro. No entanto, a instituição segue sem autonomia financeira e administrativa.

"Especificamente sobre a autonomia do Banco Central, eu gostaria de fazer um comentário sobre o trabalho do meu avô. Eu mencionei anteriormente a reforma bancária promovida pelo PAEG, em 1964. De fato, Roberto Campos foi um dos principais responsáveis pela criação do Banco Central e um grande defensor de sua autonomia. A lei 4595, de 1964, que criou o Banco Central, garantiu autonomia operacional, financeira e administrativa, inclusive com mandato fixo para seus presidentes e diretores", afirmou Campos Neto, que nesse momento parou a leitura do discurso para falar de improviso.

"Infelizmente, essa autonomia, que é moderna até para padrões de hoje, durou apenas até 1967. E aí, olhando as notas do meu avô do período, ele dizia por que era importante ter as três autonomias e o que causaria ter uma autonomia sem ter as demais. Hoje nós vivemos aí a realidade de ter uma autonomia operacional sem ter uma autonomia administrativa e financeira e a gente vê a dificuldade no dia a dia de conduzir o Banco Central sem ter uma autonomia mais ampla", completou.

Campos Neto depois afirmou que o Brasil se encaminha na "direção do modelo idealizado por Roberto Campos".

Também presente ao evento, o chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, também exaltou o PAEG e o milagre econômico - período de forte crescimento econômico no Brasil, durante os anos 1970, que foi seguido por alta da inflação e endividamento.

Sachsida disse que o governo Jair Bolsonaro segue o exemplo do PAEG, sendo baseado em um binômico econômico: consolidação fiscal e reformas pró-mercado. Esse modelo, argumenta, vai proporcionar uma década de prosperidade para o Brasil.

O membro da equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) também disse que o Brasil se tornou o "grande porto seguro do investimento mundial".

"Tal como o PAEG, idealizado pelo seu avô [Roberto Campos], alavancou o milagre econômico, da década de 1970, o binômio econômico que esse presidente Jair Bolsonaro, que esta equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes, e que esse Congresso apoiou decisivamente, estão alavancando as bases para uma próxima década de prosperidade no Brasil", afirmou.