Sem comprovação científica, ex-governador de RO defende o absurdo uso de solda contra Covid-19

João Valadares (Folhapress)

Em vídeo que viralizou nas redes sociais, o ex-governador de Rondônia Ivo Cassol solda uma barra de ferro na tentativa de imunizar contra o novo coronavírus um homem supostamente infectado. O político afirma que resolveu fazer a gravação após assistir a um vídeo em que um morador de Francisco do Guaporé (RO) utilizava a solda como possível cura para a Covid-19. Não há comprovação científica sobre a eficácia do procedimento no combate à doença.

O ex-governador gravou o vídeo em Rolim de Moura (RO) no início da semana. " (ele) Levou os funcionários, soldou e se curou. Então, portanto, nós estamos aqui com Fabrício, que está com coronavírus. Ele foi diagnosticado hoje de manhã, e como eu tive com ele no fim de semana, eu quero também saber", diz na gravação.

Em seguida, Cassol começa a soldar uma estrutura metálica. O homem vira de costas lentamente para que a fumaça proveniente da solda possa atingi-lo por inteiro. "Vou soldar aqui e vamos fazer o teste", afirma. A Folha tentou entrar em contato com Cassol, mas não obteve respostas.

Em entrevista ao portal de notícia G1, ele disse que as pessoas que se submeteram à exposição da luz de solda teriam melhora nos sintomas e alcançado a cura. "Ele estava com coronavírus, fez solda e, posteriormente, foi fazer o teste e tinha matado o vírus do 'corona'. No dia seguinte, ele pegou um funcionário dele, mais a esposa do funcionário, fez a solda também e automaticamente também acabou eliminando o vírus no corpo deles", declarou.

O médico infectologista Bruno Ishigami, que atua na rede pública de Pernambuco, ressaltou que não existem saídas mágicas. "É impressionante como estamos em março de 2021, já com um ano de pandemia, e, ainda assim, surgem vídeos como este de um ex-governador falando sobre vapor de solda como medida de cura", criticou.

O profissional reforça que, além da vacina, a saída para diminuir o contágio é isolamento efetivo, rastreio das pessoas que tiveram contato com algum caso sintomático e realização de testes em massa. "Enquanto infectologista e pessoa que acompanha a pandemia desde o início, a minha impressão é de que o Brasil entrou numa espécie de delírio coletivo e quer arrumar um saída mágica para o problema que estamos enfrentando hoje", destaca.

Rondônia enfrenta colapso no sistema de saúde. A taxa de ocupação de leitos de UTI para pacientes com síndrome respiratória aguda grave é de 100%. Em Porto Velho, há quase dois meses, não há vagas de UTI para pacientes com Covid-19. Doentes estão sendo transferidos às pressas para outras cidades.