Ex-coordenadora do PNI afirma a CPI que pediu exoneração por politização

A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) Francieli Fantinato afirmou à CPI da Covid que deixou o cargo por conta da politização de Jair Bolsonaro da vacinação contra a Covid-19 e acrescentou que as falas do presidente atrapalham a imunização da população.

Fantinato constava na lista de 14 pessoas investigadas pela comissão, que o relator Renan Calheiros (MDB-AL) divulgou em junho. Durante seu depoimento nesta quinta (8), os senadores também decidiram por unanimidade retirá-la da condição de investigada, retornando para a de testemunha. Também foi revertida a quebra de seus sigilos.

"Eu deixei o cargo por questões pessoais. Eu estou desde 2019 na Coordenação do Programa Nacional de Imunizações e venho trabalhando incansavelmente. E, pelos últimos acontecimentos da politização do assunto em relação à vacinação, eu decidi seguir os meus planos pessoais", afirmou durante depoimento.

"Então, quando a gente tem ciência, quando a gente tem segurança no produto que a gente está usando, quando os resultados apontam de forma favorável que aquilo pode trazer um resultado para a população, ter uma politização do assunto por meio do líder da Nação que traz elementos que muitas vezes colocam em dúvida", completou.

A ex-coordenadora, que estava a frente de toda a vacinação no Brasil, também disse que um programa de imunização para ter sucesso precisa basicamente de duas coisas: vacinas e comunicação. No entanto, disse que não teve apoio do governo.

"Para um programa de vacinação ter sucesso, é simples: é necessário ter vacinas, é necessário ter campanha publicitária efetiva. E, infelizmente, eu não tive nenhum dos dois", completou.

A ex-coordenadora do programa também ressaltou que uma das dificuldades enfrentadas durante a vacinação contra a Covid-19 foi a pressão para incluir grupos prioritários, o que provocou uma "fragmentação".

Por outro lado, ela apontou que a decisão de excluir a população carcerária do PNI se deu por ordem direta do ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde e atual servidor da Casa Civil coronel Élcio Franco.

Quando questionada sobre a opção de comprar doses do consórcio Covax Facility somente para 10% da população, ela disse que não participou da escolha.

"Eu recebi o contrato já fechado com 10%. Nós fizemos uma nota técnica inicial com o mesmo teor da nota técnica da Astrazeneca apontando que tinha necessidade de vacinas 55% da população até 95%. Depois veio o contrato fechado para que a gente se manifestasse sobre o grupo que deveria ser atendido com esse quantitativo."

Ela disse que perguntou ao ex-secretário-executivo Elcio Franco sobre essa opção. Segundo ela, ele respondeu que não tinha como aderir mais de 10% porque não tinha como investir todos os ovos na mesma cesta.

"Eu perguntei verbalmente se a gente ia aderir, porque inicialmente era para 20%, e o que me foi respondido é que não era para se investir todos os ovos na mesma cesta, um linguajar assim, que não poderia se investir em tudo isso, porque era um investimento de risco. Foi verbalmente, não foi formalmente. Foi o que eu fiz."

Fantinato também afirmou que não houve irregularidade em orientação do governo para que gestantes que receberam a vacina da AstraZeneca fossem vacinadas com outros modelos de imunizantes na segunda dose.

Ela disse que essa orientação, divulgada em 14 de maio, foi retirada no dia seguinte por ordem da assessoria de comunicação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Os auxiliares de Queiroga argumentaram que era preciso discutir melhor a "intercambialidade" das doses.

Fantinato disse que essa orientação havia sido debatida em grupos técnicos e era vantajosa, apesar das dúvidas sobre segurança e eficácia das trocas de doses. A mudança na regra havia sido assinada por Fantinato após dúvidas sobre riscos à saúde de gestantes pelo uso da AstraZeneca.