Ministério Público denuncia traficantes do Jacarezinho pela morte de policial

Por: Júlia Barbon

O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou na última sexta (1º) dois homens apontados como líderes do tráfico de drogas na favela do Jacarezinho pela morte de um policial civil durante a operação mais letal da história fluminense.

Adriano de Souza de Freitas, conhecido como Chico Bento, e Felipe Ferreira Manoel, conhecido como Fred, são citados como responsáveis pelo homicídio quintuplamente qualificado do inspetor André Leonardo de Mello Frias, 48, atingido na cabeça.

Ambos também foram acusados de 11 tentativas de homicídio contra outros agentes que participavam da incursão na comunidade, localizada na zona norte carioca. Com isso, dos 28 óbitos que ocorreram no massacre, 2 viraram denúncias, 15 foram arquivados e 11 continuam em investigação.

Naquele dia 6 de maio de 2021, a comunidade viveu mais de cinco horas de tiroteios intensos, que terminaram em um cenário de terror. Os óbitos ocorreram em 13 locais diferentes, tanto nas vielas quanto em casas de moradores, o que gerou investigações independentes da Promotoria.

Segundo o órgão, os criminosos atiraram diversas vezes de seteiras (buracos feitos em muros) contra a equipe que entrava na favela para cumprir mandados judiciais. Frias teria sido baleado ao descer do veículo blindado para retirar uma barricada.

Outro policial civil, Marcelo Fagundes Gonçalves, também foi atingido, mas não morreu porque estava parcialmente abrigado e se esquivou, além de ter sido socorrido por outros agentes e recebido atendimento médico rapidamente.

O Ministério Público chegou a dizer, em entrevista coletiva em outubro, que o responsável por atirar efetivamente no policial já havia sido identificado. A reportagem apurou, porém, que esse homem morreu, por isso os únicos acusados foram os suspeitos de chefiar o tráfico.

"Já há autoria e foi identificado. Não vou antecipar, porque está em sigilo. Estamos analisando se vamos pedir [a prisão] agora ou se tem que fazer mais alguma diligência", disse na ocasião o promotor André Cardoso, até então coordenador da força-tarefa criada pela Promotoria para investigar as mortes.

O grupo argumenta que Freitas e Manoel "comandam as atividades da facção criminosa Comando Vermelho no Jacarezinho e, cientes antecipadamente da realização da operação policial, prepararam atiradores do grupo criminoso para exercerem feroz reação à atuação da Polícia Civil".

Também acrescenta, em nota, que os crimes "foram executados para assegurar a execução e impunidade para delitos de tráfico ilícito de drogas e de associação para o tráfico ilícito, tendo ainda sido cometidos por motivação torpe: a pretensão de manter domínio e livre exploração econômica e criminosa do território".

Outro agravante seria o uso de recursos que dificultaram a defesa das vítimas, já que os criminosos estariam em "posição de combate fortificada", com visão privilegiada, armamento de guerra de longo alcance e preparação prévia do terreno, incluindo obstáculos para barrar veículos.

Além disso, segundo a denúncia, os crimes foram praticados com emprego de armas de fogo automáticas e de calibres de alta energia, de uso restrito ou proibido, contra agentes de segurança pública no exercício de suas funções.

Essa é a segunda denúncia oferecida referente ao massacre do Jacarezinho até agora. A primeira foi feita pelo Ministério Público em outubro do ano passado, sobre a morte de Omar Pereira da Silva, jovem de 21 anos alvejado no quarto de uma criança.

Na ocasião, o policial civil Douglas Peixoto Siqueira foi acusado por homicídio doloso e pela remoção do corpo (fraude processual) e o agente Anderson Silveira Pereira, apenas pela remoção. A dupla alega que houve confronto.

Na última quinta (31), a Promotoria confirmou que pediu o arquivamento das investigações de mais dez mortes da operação. A força-tarefa argumentou que não há provas suficientes, já que testemunhaso oculares não foram localizadas, depoimentos divergem e laudos não sugerem "execuções".

Oito meses depois do massacre, em janeiro deste ano, o governador Cláudio Castro (PL) decidiu usar o Jacarezinho e a favela da Muzema, na zona oeste do Rio, como projeto-piloto para seu programa Cidade Integrada, com a ocupação das comunidades pela Polícia Militar e a promessa de serviços e obras.
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MORTOS NO JACAREZINHO

Geraram denúncias
1. Omar Pereira da Silva
2. André Leonardo de Mello Frias (policial civil)

Tiveram as investigações arquivadas
1. Bruno Brasil (rua do Areal)
2. Carlos Ivan Avelino (Campo do Abóbora)
3. Marcio da Silva Bezerra (Valão)
4. Rodrigo Paula de Barros (Valão)
5. Raí Barreiros de Araújo (rua Santa Laura)
6. Jonas do Carmo Santos (rua Santa Laura)
7. Maurício Ferreira da Silva (rua Santa Laura)
8. Rômulo Oliveira Lúcio (rua Santa Laura)
9. Guilherme de Aquino Simões (rua Santa Laura)
10. Pedro Donato de Santana (rua Santa Laura)
11.Mateus Gomes dos Santos (Beco da Síria)
12. Jonathan Araújo da Silva (travessa João Alberto)
13. Cleyton da Silva Freitas de Lima (travessa João Alberto)
14. Natan Oliveira de Almeida (em rua não especificada)
15. Luiz Augusto Oliveira de Faria (próximo à rua do Rio)