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Relações nada republicanas

Como se vê pelo seu padrinho político, o Pastor Everaldo, o ex-juiz federal Wilson José Witzel não é exatamente o político mais bem relacionado do cenário brasileiro. Isso explica, em boa parte, por que seu governo à frente do Estado do Rio, em pouco mais de um ano, já acumula não só um pedido de impeachment (veja na página 11), como também uma série de casos mal explicados, como um escândalo envolvendo desvio de verbas na Fundação Leão XIII, que presta assistência à população de baixa renda, ou a má qualidade da água distribuída pela Cedae.

A mais recente suspeita de que existe algo estranho no reino do Palácio Guanabara está relacionada à Refit Refinaria - ex-Manguinhos. A empresa está devendo cerca de R$ 5 bilhões aos cofres do Estado do Rio. Ainda assim, Witzel conseguiu que a Refit bancasse o patrocínio de R$ 20,5 milhões para o grupo Especial das escolas de samba do Carnaval 2020.

O próprio mega-camarote do governador na Marquês de Sapucaí teria se beneficiado de parte desses recursos para bancar o serviço de primeira para todos os seus convidados.

Tristão

Witzel também mantém uma relação delicada com o seu secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão do Carmo. Coordenador de sua campanha para o governo do Rio, Tristão tentou ser presidente da Cedae, mas foi barrado pelo Pastor Everaldo.

Na indicação do secretariado do então futuro governador, no fim de 2018, o nome de Tristão foi o único nome que fez chover canivetes sobre Witzel. Afinal, os dois tinham sido sócios, e o escritório foi usado para justificar a origem de R$ 200 mil gastos pelo candidato na sua campanha.

O fato de Tristão ser o advogado do polêmico Mario Peixoto em vários processos também foi levantado pela mídia. Este passivo foi bancado pelo próprio governador eleito.

Leão XIII

Já o desvio de verbas na Fundação Leão XIII foi noticiado em várias edições do CORREIO DA MANHÃ desde setembro do ano passado. A Fundação é ligada à estrutura do vice-governador do Estado, Cláudio Castro. Em 30 de julho de 2019, a Polícia Civil deflagrou a Operação Catarata, que resultou na prisão do casal de empresários Flávio e Marcelle Chadud. Eles são proprietários da ServLog Rio, que movimentou R$ 66 milhões em contrato. O pregoeiro da Leão XIII, André Brandão, foi preso na mesma operação, no mesmo dia.

A operação foi iniciada após pedido da Controladoria Geral do Estado, que identificou indícios criminais em pregões realizados em 2017 e 2018. Mas o CORREIO apurou que, em junho de 2019, quando foram restabelecidas as rotinas da atual administração, a empresa recebeu - entre junho e julho - nove pagamentos, dentre os quais apenas um referente a 2018.

Oito já se referiam à ordenação de despesa sobre um empenho de R$ 1.850.000, emitido no dia 3 de maio, referente a um aditivo de um dos pregões. Ou seja, a gestão Witzel considerou válido um dos certames que já estava sob a lupa da Controladoria Geral do Estado (CGE).

A justificativa que consta no empenho é “prestação de serviços oftalmológicos voltados a prevenção, promoção e manutenção da saúde para idosos, pessoas em processo de envelhecimento e crianças em várias especialidades no Estado do Rio de Janeiro.” São as mesmas usadas na gestão anterior.

Apenas com a empresa envolvida na operação Catarata, a Leão XIII destinou 16% de toda a verba que teve para pagamentos 2019. Este ritmo de pagamentos semanais só foi interrompido após as prisões feitas em julho. Mas é um sinal de que a gestão Witzel estava bastante anada com o pagamento dos serviços contratados.

 

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