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Bolsonaro e Crivella selam acordo em meio à crise do coronavírus

ANA LUIZA ALBUQUERQUE E CATIA SEABRA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

No último dia 22, um domingo à noite, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) anunciou o fechamento do comércio e dos bancos no Rio de Janeiro, na tentativa de conter a disseminação do novo coronavírus.

No entanto, apenas três dias depois sinalizou um relaxamento da medida e afirmou que o comércio será reaberto aos poucos. O motivo da mudança no comportamento tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro.

Até o início da semana, Crivella se mostrava alinhado com o governador Wilson Witzel (PSC), desafeto do presidente, na imposição de medidas restritivas para combater a pandemia. A situação mudou depois do pronunciamento de Bolsonaro, na terça (23) à noite, quando criticou o isolamento social e o fechamento de escolas.

No dia seguinte, o presidente e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que já se estranhavam, entraram em pé de guerra durante reunião com os demais governadores. Mas nem todos os diálogos de Bolsonaro naquele dia foram conflituosos.

Na quarta, ele também conversou com Crivella. Bolsonaro fez um apelo ao prefeito, alegando ser necessário equilíbrio no combate ao vírus para não derrubar a economia. Crivella assentiu e, no mesmo dia, anunciou a flexibilização no comércio. Ainda assim, renovou por mais 15 dias o fechamento das escolas e voltou a pedir que a população fique em casa.

Neste domingo (29), o prefeito defendeu, em transmissão ao vivo, a tese da "imunidade de rebanho". Ele afirmou que os jovens precisam continuar trabalhando para, aos poucos, serem infectados pelo vírus e se tornarem imunes. Crivella também disse que Bolsonaro deve ir ao Rio de Janeiro na sexta-feira (3) acompanhar a situação da cidade.

Utilizando a metáfora preferida do presidente, Bolsonaro e Crivella já namoravam havia um tempo, mas somente agora ficaram noivos.

O prefeito quer o apoio de Bolsonaro na sua tentativa de reeleição. Já Bolsonaro deseja manter proximidade do eleitorado evangélico, fiel a Crivella, que é sobrinho do bispo Edir Macedo.

O maior símbolo do noivado foi a filiação dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, ao Republicanos.

O ingresso de Carlos na legenda, confirmado nesta quinta (26), já se desenhava havia algum tempo. Ele vinha entrando em embates frequentes com o pastor Everaldo, presidente do PSC, partido ao qual estava filiado.

Com o desejo de mudar de legenda, poderia escolher entre três: Patriota, PRTB (do vice-presidente Hamilton Mourão) e Republicanos. Direcionado pelo pai, decidiu pela última.

A filiação de Flávio, que deixou o PSL junto ao presidente, foi um sinal ainda mais forte da aproximação com Crivella e do aval ao Republicanos. Eleito em 2018 para um mandato de oito anos no Senado, Flávio não precisaria escolher novo partido neste momento porque não irá concorrer nas próximas eleições.

O movimento sinaliza que Bolsonaro definiu o Republicanos como o partido que deve abrigar todos os apoiadores que ficaram à deriva com o fracasso da criação do Aliança pelo Brasil em tempo hábil para a corrida municipal. Os interessados na disputa têm até o próximo dia 3 para se filiar a uma legenda.

A aproximação entre Bolsonaro e Crivella também tem outra faceta. O prefeito, às voltas com o déficit no caixa da Prefeitura, implora por auxílio federal -especialmente diante da crise do coronavírus.
Nesta sexta-feira (27), enviou um fício ao ministro da Economia, Paulo Guedes, pedindo R$ 90 milhões para socorrer as empresas de ônibus do município, que ameaçam parar a circulação devido à queda de mais de 70% no número de passageiros.

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